Articulada por parques científicos, inovação é tarefa de universidades, empresas e governos.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 12/04/2018 | Editado em 14/02/2024

Presidente da Associação Internacional de Parques Científicos e Tecnológicos, Josep Piqué, apresentou, para lideranças políticas, empresariais e acadêmicas da região, conceitos de modelo de desenvolvimento sustentado em negócios inovadores de base tecnológica que transformou Barcelona na Capital Europeia da Inovação.

As universidades como ‘minas de talentos’. As startups como as novas fontes da inovação. As empresas assumindo o desencadeamento dos processos inovadores. E a administração pública tornando-se inovadora ao viabilizar a inovação. Tecendo um alinhamento de seus principais conceitos referentes aos agentes do desenvolvimento, o presidente da Associação Internacional de Parques Científicos e Tecnológicos (IASP, na sigla em inglês), o espanhol Josep Piqué apresentou, a cerca de 60 lideranças políticas, empresariais e acadêmicas da região, um roteiro de como os parques científicos podem articular universidades, poder público, setor empresarial e sociedade para assegurar desenvolvimento econômico e humano em meio à revolução digital em permanente curso. A abordagem foi tema da conferência Como Transformar Cidades, realizada na terça, dia 10, pelo Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade de Caxias do Sul – TecnoUCS, no Campus-Sede.

Líder de uma série de iniciativas que ajudaram a tornar Barcelona a Capital Europeia da Inovação em 2014, e com a experiência de quem implementou o modelo criado pela Rede Catalã de Parques Científicos e Tecnológicos em lugares distintos da América do Sul, como Medellín, na Colômbia, e no Estado brasileiro de Santa Catarina – e que também se prepara para fazê-lo na Região Metropolitana de Porto Alegre – Piqué se propôs a responder a pergunta-título da conferência a partir do apontamento da solução estratégica para um desafio universal: como transformar oportunidade em valor. O caminho, definiu, está na combinação de três elementos: talento, tecnologia e financiamento.

O talento nas universidades

Piqué, o reitor Evaldo Kuiava e o coordenador-executivo do TecnoUCS, Enor Tonolli Jr

E o primeiro deles, está nos bancos acadêmicos: “A matéria-prima da atualidade é o talento, e ele está nas universidades. Vocês têm aqui uma mina de talentos”, destacou, referindo-se à UCS, de quem lembrou o papel, enquanto instituição de ensino, de extrair o melhor das pessoas. “Cabe à Universidade criar itinerários para que o talento do aluno maximize sua vida profissional e pessoal”, recomendou. Como outras funções acadêmicas, o palestrante salientou a produção de conhecimento – necessariamente em nível global – por meio da pesquisa científica, e a transferência de talentos e tecnologias para o mercado, de forma planejada, com a disponibilidade de mentoria e acompanhamento aos jovens empreendedores, favorecendo a criação de negócios inovadores de base tecnológica – as startups.

A proposição encontra respaldo no modelo de funcionamento do Ecossistema de Inovação da UCS, no qual as três instâncias abrigadas pelo TecnoUCS – o Programa de Empreendedorismo, o Programa de Desenvolvimento de Negócios Inovadores – StartUCS e a Incubadora Tecnológica – executam a formação, a orientação e a capacitação de novos empreendedores e a implementação de novas empresas no mercado.

Conexão entre empresas consolidadas e startups

Uma vez surgidas nas universidades é necessário, de acordo com Piqué, conectar as startups com empreendimentos consolidados. “A inovação disruptiva (aquela que muda completamente um paradigma vigente) não virá das empresas maduras”, pontuou. “Elas sabem produzir e vender, mas as novas visões, a nova maneira de pensar o mundo, está na geração nativa digital (jovens nascidos após a existência da internet) e nas mudanças trazidas pela tecnologia”. Por isso, complementou, “as startups são a nova fonte de inovação”.

Desse modo, sugeriu o presidente da IASP, o movimento para a conexão deve partir das empresas maduras, que precisam olhar para os jovens não apenas como futuros potenciais colaboradores, mas também como a futura sociedade de usuários – premissa capaz de levar as corporações a criarem agendas de inovação. “Minha proposta é que as startups, olhando para o que acontece no mundo e incorporando a visão de escalabilidade global, sejam a fonte de inovação para as corporações”, observou. Para que esta ligação seja efetiva, Piqué fez outra sugestão: a relação deve ser cultivada a partir da iniciativa das empresas de apresentarem suas demandas aos jovens empreendedores e de investir em startups, acelerando negócios que poderão resultar no desenvolvimento das soluções almejadas.

Administração pública e desafios sociais

Complementando o conceito de tripla hélice do desenvolvimento, está o governo. Observando que a legislação pode permitir ou proibir a inovação, o especialista enfatizou a importância de organização das cidades como espaços inovadores. Como exemplo, citou permissões legais e logísticas, na Europa, para a testagem de protótipos de produtos e serviços, por determinado período, sem tributação. “O problema da inovação pública é um problema de aprendizagem pública. O governo deve permitir iniciativas para que a inovação seja possível, para que se possa testá-la e educar a população sobre seu funcionamento”, ponderou. Assim, definiu, “a administração pública também deve ser inovadora”.

De acordo com Piqué, uma vez interconectadas e postas a ‘girar’ em conjunto (operação articulada pelos parques científicos, como o TecnoUCS),  as hélices do desenvolvimento estão prontas para a inclusão de uma quarta: a comunidade, a partir de desafios sociais que abrangem todos os entes, como as questões de emprego, envelhecimento populacional e de mudanças nos processos de consumo e serviço causadas pela tecnologia.

Pacto em torno de visão, desafios e ações

Para o mecanismo funcionar com eficiência, passos estratégicos são necessários: primeiro, um mapeamento do que a região faz e do que quer fazer, seguido do estabelecimento de uma visão coletiva comum (para onde se vai, o que se quer alcançar, o que se quer ser). Com perspectivas e metas, o agrupamento regional deve partir para o levantamento de desafios e para ações que envolvam o incentivo ao talento empreendedor, o atendimento das necessidades de inovação das empresas, o incentivo à pesquisa e o fomento do empreendedorismo inovador. Por fim, arrematando o movimento da agora quádrupla hélice, constitui-se um modelo de governança, pactuando visão, desafios e ações.

DICAS DE EXPERT

Diante dos questionamentos do público de lideranças políticas, empresariais e acadêmicas que participou da conferência Como Transformar Cidades?, o presidente da Associação Internacional de Parques Científicos e Tecnológicos (IASP), Josep Piqué, deu as seguintes recomendações:

POR ONDE COMEÇAR A INOVAR
“Embora também possa surgir nas empresas, o novo conhecimento nasce nas universidades, porque é onde se concentra a pesquisa científica. Uma nova aplicação é mais provável que surja em uma empresa, mas a inovação disruptiva, que estabelece um novo paradigma, é mais provável que venha das universidades. É onde os jovens estão mais próximos e onde a pesquisa é voltada para a inovação”.

POR ONDE INICIAR UMA STARTUP
“É muito melhor que as startups nasçam a partir da agenda das grandes empresas. Uma corporação pode chegar em um programa como o StartUCS e dizer: ‘Faço isso e preciso disso. Tenho essa temática e tal demanda’. A partir daí, seleciona as melhores ideias e acompanha os empreendedores durante dez semanas, até ter um protótipo testável. Isso vai fazer com que o aluno empreenda de forma criativa e focada em soluções, e também vai fazer com que o empresário conviva com a visão dos jovens, muitos deles nativos digitais. Esta também é uma forma de conexão das corporações com as startups”.

IMPULSO CONFORME DEMANDAS
“A maior oportunidade de fazer as hélices do desenvolvimento girarem é começar por empresas que tenham uma agenda de inovação. Mais adiante, estabelecer uma agenda comum entre governos, universidades e indústria, em torno de projetos individuais e coletivos”.
ESTRATÉGIA REGIONAL
“Quando as cidades são pequenas, é melhor o trabalho em rede. É uma ótima estratégia regional. Mas não esperem ter um pacto com todas as cidades da região para começar. Façam inovação amanhã, porque algo novo está surgindo em outras regiões do mundo o tempo inteiro. Esperar é dar oportunidade para que a inovação que poderia surgir aqui surja em outro lugar”
CAPACITAR PARA INCLUIR
“A criatividade estará sempre na mente humana. E a inovação não tem que deixar excluídos. Temos que ajudar, educar as pessoas a se transformarem, a se inserirem, a serem mais empreendedoras. Precisamos combinar talento e tecnologia capacitando as pessoas para o mundo digital”.
Fotos: Ariel Rossi Griffante