Paulo Ribeiro é o patrono da 23ª Feira do Livro de Caxias do Sul

O patrono da 23ª Feira do Livro de Caxias do Sul, edição 2007, é escritor, jornalista e, desde agosto de 1994, é professor no curso de jornalismo da UCS. Paulo Ribeiro, 47 anos, nasceu em Bom Jesus, onde já foi patrono de duas feiras do livro.

Instalada na Praça Dante Alighieri, a Feira começa nesta sexta, dia 5, e permanece aberta ao público até o dia 21 de outubro. Durante a Feira, Paulo Ribeiro irá fazer o lançamento de sua mais recente obra: As Luas que Fisgam o Peixe.

O patrono
Antes de vir para a UCS, Paulo trabalhou no extinto jornal Folha de Hoje. Já havia trabalhado nos jornais Diário do Sul e Correio do Povo, em Porto Alegre. A primeira experiência jornalística, antes mesmo de terminar a faculdade na PUCRS, foi no Diário de Lisboa, em Portugal, como correspondente brasileiro, quando acompanhou a visita de Tancredo Neves à cidade, em 1985. Ao voltar para o Brasil, em 1987 para terminar o curso, foi trabalhar no Diário do Sul e logo em seguida no Correio do Povo, como setorista do Sport Club Internacional. Também coordenou a equipe de jornalismo da Rádio Aparados da Serra, em Bom Jesus.

Paulo Ribeiro tem Mestrado em Letras, pela UFRGS (1994), Doutorado em Literatura Brasileira, pela UFRGS (1998) e Doutorado em Teoria da Literatura pela PUCRS (2000).

ENTREVISTA

Leia, a seguir, trechos da entrevista feita com Paulo Ribeiro, no dia 18 de agosto, pelo jornalista Jonas Rigotto, do Setor de Imprensa da UCS.

Como foi o processo de escolha
"O processo de escolha do patrono é feito pelos integrantes do Programa Permanente de Estímulo à Leitura (PPEL), órgão criado ainda na gestão de José Clemente Pozenato, na Secretaria da Cultura. O PPEL também participa da organização da Feira, juntamente com a Academia Caxiense de Letras e os livreiros e editores de Caxias. Na escolha do patrono, todos votam. No processo, são sugeridos os nomes e a escolha é feita em assembléia. Antes, a organização era responsabilidade da Biblioteca Pública".

A escolha
"E junto com a escolha do patrono vem o conjunto da obra. Estou publicando agora em outubro, na Feira, meu nono livro. Já tenho nove livros publicados. No ano que vem, lanço meu 10º livro, sobre Iberê Camargo. Sem dúvida, a escolha é pela trajetória, por esses livros publicados. E também por um certo reconhecimento de crítica que tenho, que é muito bom. Não sou um best-seller, nunca vendi rios de livros, sou um escritor que vende pouco até pela natureza da literatura que faço, é uma literatura mais elaborada, de trabalho com a linguagem, de texto mais curto, não-linear, que expressa uma fala de uma maneira simples dos meus personagens. São textos de muita invenção, que exigem uma co-participação do leitor, numa interatividade".

"Como não sou best-seller, tenho, em contrapartida, uma boa leitura crítica. No próprio meio literário, meus colegas reconhecem que Vitrola dos Ausentes é uma novela que possa ficar. Porque além dela ser inventiva, dou voz, pela primeira vez, a um pedaço do Rio Grande do Sul, que nunca tinha sido contemplado pela literatura gaúcha, que é esse cantão que se chama nordeste do Rio Grande do Sul, região que compreende toda a região de São Francisco de Paula, Lagoa Vermelha, Passo Fundo, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Bom Jesus, Vacaria. É uma parte do Rio Grande que ainda não tinha sido mapeado pela literatura. A região da campanha foi muito bem feita por vários autores, desde Érico Veríssimo e Simões Lopes Neto, aí a fronteira aparece muito. Mas nessa região, fora o Quatrilho, temos poucas obras que retratam nosso meio. Então, em função disso, pela inventividade do Vitrola, acredito que a escolha tenha sido em cima disso e também pela minha trajetória. Vou para 25 anos de dedicação exclusiva à literatura, inclusive com investimento pessoal. E também, literalmente, porque vivo da palavra".

"A escolha é também uma homenagem da Feira à nossa diversidade cultural, às etnias que formam Caxias do Sul, até porque a cidade venceu a escolha para ser a Capital Brasileira da Cultura e o lema da nossa candidatura era a diversidade cultural. E também porque represento isso, por ser um imigrante moderno, não nasci aqui, mas estou fazendo minha vida e carreira em Caxias, e sou uma mistura de negro com italiano, represento bem essa mistura de raças".

O comunicado
"Na verdade, nunca tive projeto de ser Patrono da Feira de Caxias. No dia em que fui comunicado, foi uma surpresa. O Antonio Feldman, secretário da Cultura, me ligou para comunicar, e fiquei entre a surpresa e alegria".

Ser patrono
"O patrono é o porta-voz da Feira, uma espécie de Relações Públicas, alguém que chega para ajudar na divulgação. O trabalho do patrono, além de colaborar com sugestões para a programação, é participar de eventos e de palestras que ajudam a divulgar a Feira. Além de ser o anfitrião, o cicerone, vou estar na praça para receber as pessoas.

A Feira de 2007
"A Feira de 2006 já havia sido muito bem organizada. A Feira do Livro de Caxias cresceu muito, por ter começado nos anos 70 com iniciativa de livreiros e escritores muito humildes".

"Por volta de 1984, a Feira foi assumida pela Secretaria da Cultura da Prefeitura. A partir daí ela nunca mais teve interrupção, estamos indo para a 23ª edição da Feira e o que se percebeu é que a Feira cresceu muito, ela se profissionalizou e criou muitas atrações paralelas, como debates, painéis, mesas-temáticas, além disso tem diversos programas vinculados à Feira, como o "Passaporte da Leitura", o "Leitura nas Fábricas", que é levar o autor para dentro de uma fábrica para conversar com os trabalhadores. Esses programas paralelos e a estrutura – hoje a praça está toda cobertura, pode chover que não tem mais problema – aliado ao número de escritores que aumentou, deve fazer desta Feira, uma das maiores já realizadas".

"Este ano, haverá um Encontro Regional de Escritores para o qual estão convidados escritores do Rio de Janeiro e São Paulo, como Zuenir Ventura, Antonio Torres e Nelson Mota, e autores argentinos. Temos a expectativa que, nesta edição, 200 mil pessoas passarão pela praça Dante".

Capital Brasileira da Cultura
"A Feira do Livro tem essa grande responsabilidade que é o primeiro evento depois da escolha de Capital Brasileira da Cultura, então tem que ser uma feira especial, bem organizada, de muito bom nível. Não diria que isso seria uma prova, até porque Caxias do Sul não tem que provar nada para ninguém, mas uma espécie de comprovação que a cidade merece o título".

Leitura constrói cultura
"É o tema da Feira do Livro 2007. A leitura constrói o ser humano, como cidadão. Com leitura, a pessoa tem muito mais capacidade de discernimento do mundo, de enxergar o que é certo e errado, de não se deixar explorar ou manipular e ter uma vida digna. Por mais que se tenha conselhos ou vivência, na verdade, a formação do ser humano está nos livros. Não vejo outra saída, principalmente para aqueles menos favorecidos, a não ser uma boa educação e uma formação paralela com a leitura. A partir disso é que se pode pensar em ascensão na vida, em um mínimo de horizonte no futuro. O maior legado que se pode deixar a uma pessoa é a formação e um pouco de nível cultural".