Diploma de jornalista: decisão do STF gera protestos na Cidade Universitária.

A decisão do Supremo Tribunal Federal, do dia 17 junho, que acabou com a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão, repercutiu negativamente entre estudantes e professores do Centro de Ciências da Comunicação. Durante esta quinta-feira, eles estiveram mobilizados na realização de debates sobre o assunto e visitaram o Jornal Pioneiro, o Fórum da Cidade e compareceram à sessão da Câmara de Vereadores para tornar público seu descontentamento com a decisão do Supremo.

O reitor Isidoro Zorzi também lamenta a decisão do STF mas considera que, por ser irrevogável, ela impõe à Universidade um grande desafio: o de ampliar e qualificar, cada vez mais o ensino na área da comunicação, de modo a atrair os alunos que buscam uma formação sólida nessa área. "A sociedade democrática não pode prescindir de jornalistas e o nosso papel é oferecer cursos de qualidade a todos aqueles que desejam preparar-se para ingressar nessa profissão".

Na foto, de Daiane Nardino, estudantes conversam com o coordenador do curso de Jornalismo, professor Paulo Ribeiro, e com a diretora do Centro, professora Marliva Vanti Gonçalves. Os dois professores são jornalistas.

Leia abaixo o posicionamento da diretora do Centro de Ciências da Comunicação e do Diretório Acadêmico de Jornalismo.

"É hora de nos prepararmos para novas lutas"

Como representante da Comunicação da UCS, em nível acadêmico, considero este um momento de crise, aí entendida como sinônimo de oportunidade. A cassação do diploma de Jornalismo (uma das habilitações do CECC – Centro de Ciências da Comunicação) nos coloca, de pronto, frente à pergunta: o que fazer?

Em meio aos protestos dos alunos (todos devidamente apoiados pelo Centro) e seus professores, vejo-me na obrigação de refletir e de agir. Compartilho agora minhas reflexões e possíveis ações.

1º) Há alguns anos a área da Comunicação nesta Universidade vem discutindo seu reposicionamento quanto ao mercado de trabalho e prática pedagógica. Fruto de um debate intenso e até de uma mudança de cultura, chegamos à integração entre as diferentes habilitações: Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas. Hoje, mais de 60% do Curso de Comunicação Social da UCS é atua em sinergia, ou seja, os alunos das diferentes habilitações estudam juntos até o quinto semestre, aprendendo a trabalhar as múltiplas questões da Comunicação e a respeitar as demais áreas. Sabemos que o respeito e a admiração se conquistam pelo conhecimento. O chamado Tronco Comum foi oficialmente implantado em 2008 e desde lá, vem nos garantindo algumas certezas: agimos bem – no sentido de que nossas salas de aula estão com uma ocupação invejável (mais de 90% no jornalismo – vespertino); nossos professores e alunos estão mais entrosados, compartilhando saberes antes restritos aos diferentes campos; tornou-se mais fácil o engajamento de todos em projetos e atividades comuns. Tenho certeza, por exemplo, que nossos colegas relações públicas e publicitários (sou jornalista), estão fortemente solidarizados com nossa causa particular.

2º) Há muito tempo, portanto, pensamos na Comunicação como um todo, o que apontaria, em um futuro próximo, para a constituição de um único curso: Comunicação Social. Ao mesmo tempo, a parte específica do conjunto de disciplinas de cada área seria transformada em cursos de especialização, fortalecendo a Pós-Graduação.

3º) A atitude do Supremo Tribunal Federal nos leva a pensar em agilizar o processo descrito acima. Porém, ao invés de uma única especialização em Jornalismo, por exemplo, precisamos agora ter várias, para abarcar os diferentes fazeres específicos: produção audiovisual, telejornalismo, radiojornalismo, rádio e TV, jornalismo on line, design de notícia, jornalismo impresso, entre outros. As especializações podem ser feitas por comunicadores ou por pessoas de qualquer outra área (o que, na verdade, tem aspectos altamente favoráveis: a interdisciplinaridade, a desterritorialidade, a democracia do conhecimento, enfim). Pensamos em cursos de técnologos e/ou sequenciais também para abranger o público que não pôde cursar o ensino superior.

4º) As formas de ação da Comunicação da UCS (e nossas reflexões) estão direcionadas para objetivos aparentemente simples, mas grandiosos: a qualidade de ensino, a qualidade profissional e como mantê-las. Acreditamos poder sair dessa crise mais amadurecidos: como jornalistas, como comunicadores, como professores, como instituição. Pensar de forma diferente não faz parte do caráter desse Centro.

5) Protestar, mostrar indignação, cobrar posicionamentos – o momento nos permite e é até um dever. Mas, também é a hora de nos prepararmos para novas lutas e novas maneiras de ver o mundo. É hora de adaptação, não de conformidade. É hora de trabalhar para que nossos alunos possam competir no mercado de trabalho com cada vez mais qualificação. Isso pode ser feito entre lágrimas, afinal houve uma perda, não sejamos hipócritas; mas o trabalho precisa ser feito e deve começar imediatamente. Com participação maciça. Agindo assim, tenho certeza de que, passados alguns anos, seja lá o que for que aconteça, estaremos bem. Diferentes, mas bem".

Marliva Vanti Gonçalves – diretora do Direção Centro de Ciências da Comunicação

Estudantes de Caxias do Sul protestam contra decisão do STF

Um grupo de 80 alunos e professores do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul iniciou hoje (18.06.2009) uma série de manifestações contrárias à decisão do Supremo Tribunal Federal, que anulou a exigência do diploma para o exercício da profissão. Durante parte da manhã, os estudantes reuniram-se em assembleia organizada pelo Diretório Acadêmico de Jornalismo e pela coordenação da habilitação em jornalismo. Após, portando cartazes contra a decisão do STF, dirigiram-se pacificamente à redação do jornal Pioneiro, do Grupo RBS, e ao Fórum da Comarca de Caxias do Sul.

Para o coordenador de Jornalismo, professor Paulo Ribeiro, o fim da obrigatoriedade do diploma vai significar menos qualidade na informação fornecida a leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Ribeiro teme o que considera “uma onda de picaretagem com a perda do controle ético a respeito da informação”. Já o aluno Jeferson Ageitos acredita que muitas pessoas podem, a partir de agora, “usar a prática do jornalismo em interesse próprio”. Vários alunos protestaram contra as declarações dos ministros ao anunciarem seus votos na sessão de quarta-feira no Supremo, em especial, contra as comparações feitas entre o jornalismo e outras profissões. “Estudamos não apenas por um diploma, mas pela capacidade e pelo reconhecimento para entrarmos no mercado”, disse a estudante Noele Tavares Scur. Na redação do Pioneiro, o grupo foi recebido pelo editor-chefe, Roberto Nielsen, que garantiu a manutenção da exigência do diploma para a contratação de jornalistas na empresa.

No final da tarde, às 17h, estudantes e professores vão comparecer à sessão da Câmara Municipal de Caxias do Sul para demonstrar, mais uma vez, a sua indignação contra a decisão que consideram como um retrocesso.

Diretório Acadêmico do Curso de Jornalismo da UCS