Livro de Nilda Stecanela aborda a aprendizagem do jovem da periferia fora do espaço escolar.

"Quando ser professor, quero ser diferente, inovador. Sou diferente, eu me acho, porque consigo fazer as pessoas se motivarem, tenho domínio em lidar em grupo e com estudo vou ter mais poder porque, perante a sociedade, vou ser mais respeitado, valorizado e vou render mais do que em firma (refere-se a empresas). Mas, até lá, vou dar duro onde trabalho, pois é dali que vou tirar meu sustento. Sempre me dediquei naquilo que faço e hoje eu até que enfim, descobri o que quero para mim, que é ser professor, monitor, sei lá. Quero é trabalhar com gente, ensinar, aprender!"
- Claiton (Preto), um dos jovens, sujeito da pesquisa que deu origem ao livro "Jovens e Cotidiano - Trânsitos pelas Culturas Jovens e pela Escola da Vida" de Nilda Stecanela.

O livro "Jovens e Cotidiano - Trânsitos pelas Culturas Jovens e pela Escola da Vida", da educadora Nilda Stecanela, lançado pela EDUCS, no dia 14 de setembro, procura compreender a juventude e educação contemporânea no universo dos jovens da periferia de um centro urbano. A autora, bióloga por formação e educadora por vocação (é mestre e doutora em educação pela UFRGS), armou-se do rigor teórico e saiu a campo - a comunidade "O Reolon", na região periférica de Caxias do Sul - para entender como se dá o processo educativo do jovem fora do espaço escolar, na escola da vida.

"Os jovens constroem conhecimento e desenvolvem competências nas redes sociais que estabelecem com e no espaço urbano, para além dos espaços educativos formais. As narrativas juvenis indicam que essas competências apresentam-se de forma mais visível na dimensão relacional e requerem olhares mais aprofundados para o levantamento dos aspectos cognitivos, que se processam através de outros vieses, como, por exemplo, a ação ou suas andanças pelo campo das experiências, e, também, os diálogos (ou ausência deles) entre as aprendizagens formais e não formais".

O livro, resultado das pesquisas e do diálogo com um grupo de jovens com uma trajetória marcada pelo insucesso escolar, acaba por propor uma discussão teórica sobre a juventude, uma reflexão sobre metodologia de pesquisa na perspectiva etnográfica a partir da tensão do cotidiano e da palavra dos pesquisados, e a construção dos itinerários de vida e dos processos identitários da juventude da periferia urbana.

Mesmo não tratando diretamente dos processos da educação formal, o livro constitui-se em leitura obrigatória para educadores e os demais profissionais das ciências humanas e sociais pois, se nos ajuda a compreender melhor o jovem, as culturas juvenis, a juventude ou "as juventudes" como prefere a autora, também nos obriga a uma reflexão sobre o compromisso da educação, da escola e do professor para com todos esses jovens que vivem na periferia das grandes cidades.

Recheado de depoimentos contundentes - "inventários dos usos dos tempos" - que emocionam e nos chamam para uma reflexão sobre que tipo de atenção está sendo dada ao jovem, especialmente ao jovem da periferia, o livro também nos alerta, mesmo não sendo esse o objetivo principal da autora, sobre o quanto a escola ainda precisa se reinventar para atender verdadeiramente aos anseios desse jovem.

Nas fotos de Jonas Ramos, a mesa de abertura do evento de lançamento do livro, com o vice-reitor e pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, José Carlos Köche; o reitor Isidoro Zorzi; a autora; e o pró-reitor Acadêmico Evaldo Kuiava. Na foto à direita, a autora posa com Claiton Augusto Vargas Melo, que passou da condição de "sujeito da pesquisa" para seu aluno no curso de Pedagogia da UCS, na busca do seu sonho de ser um professor diferente e inovador.

No evento de lançamento, as principais autoridades acadêmicas da Universidade estavam lá para prestigiar a autora. Porém, na plateia, além dos familiares, amigos e alunos, a autora teve também a presença de outros convidados especiais: alguns daqueles jovens que deram vida à sua pesquisa estavam lá, como prova de que os sujeitos transitam para além da rua. Suas palavras, muito bem escavadas e escovadas pela autora foram ampliadas e, certamente, vão se fazer ouvir bem além do Reolon. Durante a pesquisa, Nilda inspirou-se no poema "Escova" de Manoel de Barros, tomando de empréstimo as expressões "escavar" e "escovar" palavras, com o significado de conhecer mais profundamente o cotidiano dos jovens e interpretar os sentidos de suas falas.