Aids: uma doença crônica.

O acesso universal ao tratamento e à prevenção do HIV transformou o cenário da epidemia

A comunidade médico-científica luta desde o início da década de 80 contra a Aids, originada pelo vírus da imunodeficiência humana identificado em 1983. Desde então, ainda não foi descoberta uma maneira de eliminá-lo, devido a sua capacidade de driblar o sistema imunológico e localizar células específicas de defesa, nas quais possa se hospedar. Após se alojar em uma célula e modificar sua genética, como não encontra barreiras se espalha por todo o corpo.

Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, em 2010, 34 milhões de pessoas no mundo são soropositivas e, dessas, 50% são mulheres. O Boletim Epidemiológico do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais de 2011, do Ministério da Saúde, aponta o Brasil - após 30 anos - como um país de epidemia estável e concentrada em subgrupos populacionais em situação de vulnerabilidade. Os dados mostram que a proporção entre homens e mulheres vem diminuindo ao longo dos anos. Em 1990, para um grupo de 54 homens com HIV havia 10 mulheres com a doença. Hoje, esse número está em 15 homens e 10 mulheres.

Para Nicole Golin, egressa do curso de Medicina da UCS e infectologista no Serviço de Infectologia da Secretaria Municipal de Saúde de Caxias do Sul, vários fatores causaram a feminização da doença. "A falta de autonomia da mulher em relação ao uso do preservativo por parte do parceiro e o início cada vez mais precoce da atividade sexual entre adolescentes que não usam preservativo contribuem para o aumento destes casos", explica.

Referência para o mundo, o Brasil desenvolve, desde 1994, ações para estimular a prevenção da doença, como a distribuição de preservativos nas unidades básicas de saúde e em serviços especializados, além de fornecer, aos infectados, medicamentos antirretrovirais que diminuem a quantidade de vírus que circula no sangue.

Conforme Denis Ribeiro, consultora técnica do Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, que palestrou no Seminário Saúde da Mulher e o HIV, em março, na UCS, o Governo Federal atua em grandes eixos de políticas públicas da saúde, como: riscos e vulnerabilidades; direitos humanos; transmissão vertical de HIV e sífilis; assistência (cuidado e qualidade de vida); e vigilância epidemiológica. "O programa brasileiro ampliou o seu foco nos últimos anos, além de interagir com outros programas ministeriais", destaca.

O governo brasileiro realiza, concomitante a outros países, pesquisas relacionadas ao vírus e à doença. Desde o surgimento da Aids, houve muitos avanços na compreensão da origem, na evolução, na transmissão, no diagnóstico, nas terapias, nas vacinas e na prevenção.

Glossário
- Aids: sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
- Antirretrovirais: medicamentos indicados para o tratamento da infecção pelo HIV, que têm o objetivo de reduzir a quantidade do vírus que circula no sangue
- HIV: sigla em inglês para Vírus da Imunodeficiência Humana
- Sífilis: doença infecciosa, sexualmente transmissível, causada por uma bactéria; pode causar aborto, má-formação do feto e/ou morte ao nascer
- Transmissão vertical: acontece quando uma gestante transmite o HIV para o bebê durante a gestação, o parto e a amamentação


Universidade desenvolve estudos e tecnologias para o diagnóstico da doença

Desde 2002, quando foi inaugurado o Laboratório de Pesquisas em HIV/Aids (LPHA), a UCS integra pesquisas do Ministério da Saúde (MS) no combate à epidemia do vírus. Nessa parceria já foram desenvolvidos seis projetos, a maioria voltada para a validação de novos testes, diagnósticos e epidemiologia.

A tecnologia de coleta de amostras de sangue, utilizando papel-filtro, é uma das ações desenvolvidas pelo LPHA, validada em 2009 pelo Ministério, através da Portaria SVS/MS n.151. Essa tecnologia foi utilizada pelo Governo Federal para a realização do Projeto Sentinela Parturientes, que realizou testes anti-HIV e sífilis em cerca de 40 mil gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para o qual o LPHA da UCS foi o laboratório de referência na realização dos testes. Para a coleta das amostras de sangue, utilizou-se papel-filtro, de baixo custo, e de fácil armazenamento e que não requer transporte especializado até o laboratório. Dessa forma, o Ministério buscou estabelecer estimativas para o número de casos da infecção pelo HIV, subsidiando dados para a população geral de mulheres em todo o Brasil.

O LPHA desenvolve pesquisas interdisciplinares acerca do vírus. Neste sentido, o Laboratório já participou de mais de 10 projetos em parceria com o National Institute of Health (Estados Unidos), e com diversas universidades americanas.

O laboratório também conduziu projetos de pesquisa com pacientes da rede pública de saúde em Caxias do Sul e em Porto Alegre. "Como benefício ao participar de pesquisas, os pacientes receberam atendimento por parte de uma equipe interdisciplinar com acompanhamento clínico e exames adicionais aos oferecidos pelo SUS", destaca Rosa Dea Sperhacke, coordenadora do LPHA.

Ela ainda ressalta que os dados gerados por essas pesquisas permitirão compreender melhor os efeitos da terapia antirretroviral em pacientes expostos e infectados pelo HIV na população.

Livro aborda os desafios das portadoras do vírus da Aids
O livro "Vivências de gestantes e mães com HIV", publicado pela Educs, reúne informações e exemplos dados por gestantes e mães com HIV positivo sobre suas experiências. Financiada pelo National Institutes of Health, através do Forgaty International Center (Estados Unidos), a obra foi elaborada a partir de entrevistas realizadas com mulheres soropositivas para o projeto "Depressão Perinatal", desenvolvido pelo LPHA em parceria com a Johns Hopkins University, o qual buscou avaliar a saúde mental e os problemas psicossociais associados à infecção por HIV. A obra, de autoria da professora de Psicologia da UCS Claudia Bisol, conjuntamente com as pesquisadoras estadunidenses Judith Bass e Andrea Vazzano, será distribuída gratuitamente a entidades e organizações do Brasil que atuam com mulheres e gestantes.

Fotos: Daniela Schiavo





Revista ATOS & FATOS - Publicação mensal da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.

O texto acima está publicado na segunda edição da Revista ATOS & FATOS que já circula nos campi e núcleos.