ESTUDAR NO CETEC: projetos interdisciplinares potencializam aprendizagens e preparam para a autonomia.

Estudantes e professores falam da metodologia adotada pelo CETEC.

"Eu não sabia que gostava de literatura. Sempre gostei de escrever, mas não associava isso à literatura. No CETEC aprendi sobre a história da escrita, sobre os diferentes gêneros literários. Este ano comecei a participar da Oficina de Escrita Criativa e passei a ter novas ideias sobre as coisas". Bruna Suzin está na 2ª série do Centro Tecnológico Universidade de Caxias do Sul. Ela conta que quando chegou à escola estranhou o clima de liberdade, mas logo se acostumou. Ela fala com a segurança de quem sabe que liberdade rima com responsabilidade e que somadas resultam em autonomia.

Autonomia e responsabilidade. Atitude científica. Integração. Sustentabilidade. Solidariedade. Respeito mútuo. Estes são os princípios que norteiam a proposta educacional do CETEC. Para viabilizá-la, a escola aposta em uma metodologia que prioriza a realização de projetos interdisciplinares, através dos quais o aluno, de forma colaborativa, desenvolve competências, articula saberes, cria estratégias de organização do conhecimento, resolve problemas, construindo assim aprendizagens contextualizadas e significativas. Para a diretora do CETEC, professora Ana Cesa, a educação deve ter um sentido amplo e abrangente que responda a todas as dimensões do ser humano e isso se concretiza melhor em um ambiente de liberdade e respeito mútuo.

- Neste momento, todas as séries estão envolvidas com a preparação do CETEC Festival e ao mesmo tempo cada uma delas desenvolve seus projetos específicos tendo como norteador o eixo temático da série. O esforço é para que os projetos se relacionem cada vez mais com os conteúdos das disciplinas para que a aprendizagem seja contextualizada. As tarefas propostas ao aluno devem motivá-lo a pesquisar, a refletir e a criar soluções viáveis para a resolução de um problema. As tarefas vão ganhando complexidade à medida que o aluno exercita essa forma de aprendizagem, que, sem dúvida, lhe dá maior autonomia no pensar e no agir.

Verônica Mandeli Gasselli, 3ª série, também considera que a liberdade que é dada ao aluno é um dos pontos positivos da escola, mas adverte: "nós precisamos saber como usar essa liberdade com responsabilidade". Já Bianca Libardi, da 2ª série, lembra que a escola é também um espaço para as amizades e não somente com os colegas da mesma turma. "Quando as turmas se misturam para fazer os projetos integrados há a possibilidade de conhecermos melhor os outros colegas e fazer novos amigos". Bianca gosta das aulas de dança, música e oralidade. "Todas as aulas são importantes, nas aulas de dança, por exemplo, se aprende muito sobre convivência e respeito".

Aprender fazendo
A coordenadora pedagógica do CETEC, professora Isabel Correa, explica que ensinar através de projetos se opõe à aula expositiva, onde o professor atua como, supostamente, o dono do saber. É uma relação educativa mais solidária, motivadora que transforma o aluno em pesquisador, que vai utilizar um método de ação, um descobridor de significado e construtor de sua própria aprendizagem.

- A participação dos adolescentes em projetos mobiliza todas as suas potencialidades intelectuais, criativas, afetivas e sociais. Além disso, essa possibilidade colabora para que a educação não se limite à transmissão de saberes, mas, acima de tudo, contribua para aperfeiçoar a consciência. A educação com sentido é uma educação para a responsabilidade. É por essa razão que o lema de nossa escola é "Autonomia com Responsabilidade". Uma educação com sentido colabora para aprimorar as competências dos alunos auxiliando-os a encontrar com maior facilidade o sentido das coisas e clarificar a importância dos valores.

O projeto de escrever um livro, assim como as aulas de culinária Escola de Gastronomia UCS-ICIF, em Flores da Cunha, realizadas no ano passado, abriram novos horizontes para Sofia Pauletti Gravina, da 2ª série. "Já me interessava por literatura e artes, mas descobri o prazer de cozinhar no curso de culinária. Este ano comecei a Oficina de Escrita Criativa e participo da elaboração do roteiro do CETEC Festival da minha turma. Também gostei muito de escrever um livro na 1ª série, de fazer a árvore genealógica da minha família e de construir a minha linha do tempo".

Rafael Witt está na 1ª série. Envolvido com a preparação do CETEC Festival, ele diz que não gosta de fazer teatro mas está ansioso em participar do evento que se realizará no final de junho e terá como tema as profecias relacionadas ao ano de 2012. "Eu vou estar no palco, porque não tem graça participar do CETEC Festival sem subir ao palco. Acho que vai ser muito legal".

"A preparação do CETEC Festival, principalmente na fase de elaboração do roteiro, é um processo criativo estressante, todos brigam, há muita crítica, mas no final todos se unem e colaboram para que a turma não passe vergonha. Há um crescimento da turma". Gabriela Maciel, da 3ª série, lembra que no 1º semestre de cada ano as turmas estão envolvidas com a preparação do CETEC Festival. Cada turma procura superar-se e fazer um espetáculo melhor do que o do ano passado. Para os primeirinhos – como são denominados os alunos da 1ª série – a ansiedade é maior, pois tudo é novidade. A diretora Ana Cesa explica que é na realização do CETEC Festival que os alunos do 1º ano adquirem o significado de turma. "O trabalho coletivo em torno de um objetivo único e maior dá um novo sentido e identidade à turma", explica a professora.

Eixos temáticos
Os temas dos projetos partem dos interesses e dos diferentes momentos vivenciadas pelos alunos, explica a coordenadora pedagógica. Relacionam-se com os conhecimentos que estão sendo desenvolvidos pelas diferentes disciplinas em cada série. Isso contribui para que o aluno perceba a relevância de cada uma delas. Para cada série foram definidos eixos temáticos que remetem aos momentos pelos quais os alunos estão passando. Assim, para a 1ª série, definiu-se a "Ecologia nas Relações", onde se desenvolve a integração, a solidariedade e o respeito mútuo. Na segunda série, "Quem sou" é a questão filosófica que deve levar ao autoconhecimento em todas as suas dimensões. Na terceira série, o foco é preparar o aluno para a inserção social auxiliando-o na escolha profissional através do eixo temático "Eu no Mundo (do trabalho)".

Para a diretora, além dos conteúdos programáticos, da preparação para os estágios, dos estudos orientados, a escola procura oportunizar espaços e orientação para que o aluno possa exercitar sua capacidade criadora deixando aflorar interesses e habilidades que muitas vezes ele ainda não teve a chance de explorar.

- A cada ano procuramos aperfeiçoar a forma de realizar os projetos para não sobrecarregar o aluno e aumentar a interatividade entre as disciplinas.

Bruna Suzin concorda com o excesso de atividades, mas não tem ideia de como isso poderia mudar. "Acho que assim já estamos nos preparando para a rotina da vida adulta", consola-se a estudante.

Os professores também se preocupam com o número de trabalhos e tarefas às quais os alunos precisam dedicar-se fora do horário das aulas. Este ano, o professor Mauricio Giubel teve a ideia de criar um software para melhorar a gestão dos projetos propostos pelos professores. A deia é que os professores e a direção da escola compartilhem informações e acompanhem as etapas de desenvolvimento dos projetos relacionados a cada disciplina. Assim, em um mesmo projeto pode-se incluir conteúdos e demandas de várias disciplinas. "Ainda da em fase de implementação, a nova ferramenta deve aumentar a interdisciplinaridade e racionalizar as atividades a serem desenvolvidas pelos alunos, o que poderá se refletir em um melhor aproveitamento dos trabalhos individuais ou coletivos", arrisca o professor.

O vestibular ainda assusta
Marília Bortoluz Rech está na 3ª série e fala com desenvoltura sobre a escola e sobre os diferentes projetos dos quais participou. "No CETEC descobri um interesse especial pela biologia. Acho que isso tem a ver com as aulas e com a motivação da professora que nos faz ver a ligação dos assuntos estudados com as outras disciplinas". Ao discorrer sobre a integração entre as disciplinas e os conteúdos ela explica a relação das aulas de genética com as probabilidades matemáticas. Mas, ela concorda que quando pensa no concurso vestibular, matemática, biologia, física e química ainda são as disciplinas que mais assustam os vestibulandos.

Na 3ª série, a proximidade do vestibular mobiliza os estudantes. Desde que entrou na escola, Marília já mudou várias vezes de ideia sobre a profissão que deseja seguir. Este ano, com a participação no projeto "Espaço das Profissões", ela pretende obter mais subsídios para fazer a sua escolha.

Bruno Carpeggiani, da 2ª série, já fez a sua. Ele quer fazer Relações Internacionais e sabe que, por ser um curso muito concorrido, necessita dedicar-se mais aos estudos, por isso, além do CETEC, ele também faz um cursinho pré-vestibular.

"Eu faço o curso Técnico em Administração e estou gostando muito porque ele me dá uma base bem abrangente para várias carreiras e também para a minha vida. No curso técnico desenvolvemos muitos projetos que estão integrados com as outras disciplinas, visitamos empresas e estudamos muita teoria também". Giúlia Tomazi Kny, 3ª série.

No segundo ano, o estudante pode participar de um dos cursos técnicos oferecidos pela escola, em Administração ou Técnico em Informática. A coordenadora pedagógica explica que na 3ª série há uma preocupação em preparar o aluno para a inserção na sociedade e para a escolha profissional e um dos projetos interdisciplinares do qual todas as turmas do terceiro ano participam é o Espaço das Profissões.

- Os alunos desenvolvem uma pesquisa sobre a profissão que estão pensando em seguir, analisando o currículo dos cursos de graduação, quais as funções de cada profissional, como está o mercado e, de posse de todas essas informações, organizam salas interativas onde atuam como profissionais das profissões escolhidas. Esse processo os auxilia a fazer uma escolha profissional com maior segurança.

A tecnologia a serviço da educação
"Desde o ano passado temos o AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem, onde os professores postam avisos, conteúdos e exercícios pré-provas. O professor de matemática postou uma pré-prova, mas não colocou o gabarito. Nós fizemos os exercícios e discutíamos entre nós, no AVA, a solução encontrada por cada um. Foi uma forma de estudar em grupo, quem sabia ensinava a quem não sabia". No seu relato, Marília Bortoluz Rech confirma o que a professora Andréia Mores, coordenadora do curso de Pedagogia da UCS escreveu no último Jornal do Centro de Filosofia e Educação:

- A educação, mediada por tecnologias avançadas de informação e comunicação, pode propiciar novas relações entre as pessoas, novas formas de interação, de construção de conhecimentos. É um espaço virtual de trocas e socializações, em que é possível aprender juntos, democraticamente.

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Fotos: Daniela Schiavo, Jonas Ramos, Berenice Stallivieri e Mauricio Giubel