Leonardo Boff fala sobre ética e acolhimento, na sessão de abertura do 8º Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul.

Na abertura do Semintur, teólogo reforçou a necessidade de se estabelecer novos paradigmas para o relacionamento interpessoal e com o meio ambiente.

Centenas de pessoas compareceram ao UCS Teatro na noite desta quinta-feira (02), movidas pelo interesse e pela curiosidade de ouvir o que Leonardo Boff tinha a dizer. Renomado teólogo e ecólogo e autor de mais de 60 livros nas áreas de Teologia, Ecologia, Espiritualidade, Filosofia, Antropologia e Mística, Boff comandou a Conferência de Abertura da oitava edição do Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul, o Semintur, que segue até sábado, dia 4 de julho, na Cidade Universitária.

Para uma plateia formada por pesquisadores de diversos países, além de professores, acadêmicos da UCS e também pela comunidade em geral, Leonardo Boff abordou sobre os temas: ética, hospitalidade e turismo.

Durante vários momentos, o teólogo destacou a Encíclica do Meio Ambiente, lançada pelo Papa Francisco no mês passado.

O documento, elaborado com auxílio de Boff, traz o conceito de ecologia integral, que propõe uma ampla transformação no tratamento ao planeta Terra e a seus recursos naturais. Mais do que isso, define o planeta como a "casa comum", onde todos os seres vivos formam um ecossistema e são responsáveis por ele.

Para Boff, a tomada de consciência sobre a "casa comum" é a única forma de combater a destruição de ecossistemas, estimulada pelo sistema econômico vigente e que, segundo ele, se não for revertida, resultará na destruição da raça humana.

O alerta sobre a gravidade de questões como o aquecimento global e o prejuízo à vida no planeta Terra não é novo. Porém, na figura de Boff, ganha um novo fôlego. Munido de dados alarmantes sobre a situação do meio ambiente, e com firmeza e sensibilidade, Boff afirmou que é preciso agir e lançou um desafio: individualmente, todos devem contribuir para a busca de uma solução global.

“Terra e humanidade formam uma unidade complexa. O planeta não consegue mais se autorregular sozinho. Estamos no meio do caos. O ser humano tem o dever de ajudar a Terra a reencontrar o equilíbrio.”

Para o reitor da UCS, Evaldo Antonio Kuiava, o Semintur funciona como uma semente para a criação de novos paradigmas. Nesse sentido, afirmou, Boff é o portador de ideias de base que servem a essa necessidade.

Quem acolhe o outro, acolhe a divindade
Hospitalidade foi um dos tópicos da fala de Boff. Ao citar o exemplo de Caxias do Sul, cidade formada por diversos movimentos migratórios, o teólogo reforçou que esse é um princípio de todos os povos. No entanto, é necessário que a hospitalidade seja um projeto consciente com base na acolhida. “Quem acolhe o outro, acolhe também a divindade. A hospitalidade mostra que o ser humano pode se abrir para o próximo. Mas estamos perdendo essa capacidade. É preciso cultivar a sensibilidade que acolhe o outro, reconstruindo a civilização a partir da valorização da vida.”

Para músicas novas, ouvidos novos
Ao falar sobre Ética, outra temática envolvida na Conferência, Leonardo Boff expôs a necessidade de reinventá-la. Segundo ele, é preciso que o discurso ético dê conta de orientar as pessoas por meio do resgate de dois caminhos: o cuidado e a cooperação, ambos fundamentais para a manutenção das relações humanas.

Por fim, o turismo foi abordado pelo teólogo como um importante elemento de interação social e de conhecimento. “O turismo mostra que podemos ser humanos de muitas formas.”

Atividades na UCS
Nesta quinta-feira (02), Leonardo Boff cumpriu uma série de compromissos que antecederam a Conferência de Abertura do Semintur. Pela manhã, o teólogo recebeu veículos de imprensa para uma entrevista coletiva na Sala Florense, localizada no Bloco M da Cidade Universitária. Na ocasião, o reitor da UCS, Evaldo Antonio Kuiava, destacou a satisfação da Universidade em receber Leonardo Boff, segundo ele, figura inspiradora por meio de seus pensamentos de base. “Leio as obras de Leonardo Boff desde meus estudos no seminário. Ele escreve aquilo que pensa e aquilo que vive. Suas ideias representam muito para a sociedade atual.”

Em seguida, por volta de 17h, Leonardo Boff promoveu uma sessão de autógrafos aberta ao público.

Sobre o Semintur
O Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul, Semintur, é promovido e organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hospitalidade da Universidade de Caxias do Sul e reúne pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras que buscam socializar o conhecimento produzido sobre turismo e hospitalidade, a fim de contribuir para o amadurecimento do Turismo como campo de estudo interdisciplinar. A temática escolhida para o 8º Semintur e para o 1º Hospitalidade em Colóquio trata da hospitalidade como elemento constitutivo do turismo, um dos eixos fundantes do próprio desenvolvimento turístico.

Sobre Leonardo Boff
Leonardo Boff nasceu em Concórdia, Santa Catarina, aos 14 de dezembro de 1938. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique, na Alemanha, em 1970. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em 1959. Esteve presente no início da reflexão sobre a Teologia da Libertação, que procura articular o discurso indignado frente à miséria e à marginalização com o discurso da fé cristã.

De 1970 a 1985, participou do conselho editorial da Editora Vozes. Neste período, fez parte da coordenação da publicação da coleção "Teologia e Libertação" e da edição das obras completas de C. G. Jung. Foi redator da Revista Eclesiástica Brasileira (1970-1984), da Revista de Cultura Vozes (1984-1992) e da Revista Internacional Concilium (1970-1995).

Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro "Igreja: Carisma e Poder", foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Dada a pressão mundial sobre o Vaticano, a pena foi suspensa em 1986, podendo retomar algumas de suas atividades. Em 1992, sendo de novo ameaçado com uma segunda punição pelas autoridades de Roma, renunciou às suas atividades de padre e se autopromoveu ao estado leigo. Continua como teólogo da libertação, escritor, professor e conferencista nos mais diferentes auditórios do Brasil e do exterior, assessor de movimentos sociais de cunho popular, como o Movimento dos Sem-Terra e as comunidades eclesiais de base (CEB's), entre outros. (Fonte: www.leonardoboff.com.br)

Texto: Josmari Pavan - Fotos: Claudia Velho