Nova espécie de fungo isolado na Instituição recebe nome científico em homenagem à UCS

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 28/07/2022 | Editado em 04/08/2022

Penicillium ucsense foi classificado a partir de trabalho na área de bioinformática produzido pelo professor Alexandre Rafael Lenz, egresso do doutorado em Biotecnologia da Universidade

Fotografias de observação macromorfológica do impacto da mutação de colônias de Penicillium ucsense

Penicillium ucsense é uma nova espécie de fungo, cuja linhagem foi isolada na UCS e, recentemente, classificada por pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul, da Holanda e da Coreia do Sul. Como a biodiversidade fúngica ainda é pouco conhecida, estima-se que somente cerca de 10% dos fungos existentes estejam identificados taxonomicamente, e o Penicillium ucsense é mais uma espécie que foi nomeada devido ao desenvolvimento e à evolução de técnicas de Biologia Molecular e Bioinformática.

Isolado em 1979, o fungo foi extraído do trato intestinal de larvas que se alimentavam da estrutura de madeira do revestimento do então laboratório de Parasitologia, no Bloco A da Universidade. O isolamento foi realizado pelo fundador do Instituto de Biotecnologia da UCS, professor Juan Luis Carrau, e pela professora Rute Terezinha da Silva Ribeiro. As larvas e indivíduos adultos foram identificados por especialistas da USP, como pertencentes ao coleóptero Anobium puntactum.

O microrganismo isolado mostrou-se capaz de crescer em placas de Petri – recipiente cilíndrico, achatado e utilizado para cultivos de microrganismos – contendo meio de crescimento, acrescido de tiras de papel (celulose). Inicialmente, verificou-se assim a capacidade deste fungo de produzir enzimas celulases. A quantidade de enzimas produzidas pelo isolado foi melhorada, com pesquisas orientadas pelo professor Aldo Dillon, que há mais de quatro décadas dedica-se ao tema. Ele e sua equipe, entre outras ações, pesquisam a atuação das enzimas na degradação do bagaço e  palha da cana-de-açúcar e do capim-elefante, para, posteriormente, poder gerar etanol por fermentação dos açúcares liberados.

Observações micromorfológicas de Penicillium ucsense

Na época do descobrimento do fungo, com identificação por morfologia, o microrganismo foi classificado como Penicillium sp. Após, foi encaminhado a um centro de pesquisa no Sudeste do país para que fosse realizada a identificação taxonômica da espécie. Com as técnicas disponíveis na época, identificou-se como Penicillium echinulatum. Desde então, o fungo foi estudado tanto em programas de melhoramento genético, como em processos de produção de enzimas e hidrólise de biomassa lignocelulósicas e outras aplicações. No âmbito acadêmico, serviu para a formação de incontáveis estudantes de iniciação científica, duas dezenas de mestres e uma dezena de doutores, além de gerar 50 publicações em periódicos científicos internacionais e várias solicitações de patentes.

Entre os doutores formados está Alexandre Rafael Lenz, que durante seu doutoramento,  orientado pelos  Professores  Aldo Dillon e Sheila de Avila e Silva, foi responsável pelos estudos de Bioinformática, a partir das sequências de DNA do fungo. Entre outros artigos, provenientes de sua Tese, Alexandre é o primeiro autor do trabalho “Taxonomy, comparative genomics and evolutionary insights of Penicillium ucsense: a novel species in series Oxalicahttps://doi.org/10.1007/s10482-022-01746-4, que possibilitou a identificação do fungo,  como pertencente a  uma nova espécie. 

“Quando percebemos a possibilidade de um fungo tão estudado ser uma nova espécie, buscamos colaborações com pesquisadores do Westerdijk Fungal Biodiversity Institute, Universidade de Utrecht, na Holanda, que é o principal centro de referência em identificação e estudos com fungos do mundo. Lá, com a colaboração do professor Dr. Jos Houbraken e sua equipe, chegou-se à conclusão que realmente tínhamos uma nova espécie e que precisaríamos ‘batizá-la’. Então surgiu o novo nome científico Penicillium ucsense, em homenagem à nossa universidade”, destaca a professora Marli Camassola, também pesquisadora da equipe.

Cerimônia marcou apresentação de nova espécie

Um encontro de apresentação para tratar da história e também da categorização do Penicillium ucsense reuniu pesquisadores, professores e imprensa no Salão de Atos Roberto Vitorio Boniatti, no Bloco A do Campus-Sede, noite de quinta-feira, dia 28 de julho. 

O professor Aldo José Pinheiro Dillon destacou a trajetória envolvendo a descoberta do fungo, o isolamento do microrganismo e as etapas preliminares de categorização da espécie, inicialmente, conhecida como Penicillium sp e, posteriormente, Penicillium Echinulatum. Lembrou da atuação de Juan Luis Carrau-Bonomi e Rute Terezinha da Silva Ribeiro, professores da UCS à época, e responsáveis pela descoberta do fungo. 

Da bioinformática, o professor Alexandre Rafael Lenz, egresso do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, que defendeu sua tese a partir do mapeamento do genoma do fungo, recordou os passos que conduziram a pesquisa até a confirmação de que o Penicillium Echinulatum tratava-se de uma nova espécie, sendo batizado de Penicillium ucsense

Encerrando o encontro, o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, professor Everaldo Cescon, reforçou a importância da ciência e também o aspecto institucional envolvido nas descobertas em torno do fungo, que agora, como nova espécie, carrega o nome alusivo à UCS. Ele reforçou a dimensão histórica da ciência, na medida em que os estudos, ao longo de 43 anos, foram se transformando, o aspecto coletivo envolvido no processo de pesquisa e, por fim, a importância da persistência para se alcançar os objetivos estabelecidos.