Nuccio Ordine recebe título Doutor Honoris Causa e faz conferência sobre a importância da cultura.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 06/09/2017 | Editado em 06/09/2017

Homenageado defende que a missão da universidade deve ser formar cidadãos cultos e livres, que exerçam o bem comum para o progresso de todos.

Presidida pelo reitor Evaldo Kuiava, foi realizada no final da tarde desta terça-feira, dia 5 de setembro, a sessão solene e pública do Conselho Universitário que outorgou ao professor, filósofo e pesquisador Diamante Nuccio Ordine, o título de Doutor Honoris Causa pela sua contribuição para o avanço da ciência, das letras e das artes.

Docente na Universidade da Calábria, em Cosenza, Itália, Nuccio Ordine é pesquisador do Centro de Estudos da Renascença Italiana da Universidade de Harvard, da Fundação Alexander von Humboldt, e professor convidado em diversos institutos e universidades nos Estados Unidos e na Europa. É reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes pesquisadores da obra do grande filósofo italiano do Renascimento, Giordano Bruno, sobre o qual escreveu três livros: “A cabala do asno”, “O umbral da sombra” e “Contra o evangelho armado”. Escreveu também “Teoria do riso e teoria da novela no século XVI”, “Três coroas para um rei (sobre Henrique III)”, “Clássicos para a vida” e “A utilidade do inútil”. No Brasil, Nuccio Ordine dirige com Luiz Carlos Bombassaro a edição das Obras Italianas de Giordano Bruno, publicadas pela EDUCS.

Pela  sexta vez outorga a Nuccio Ordine se realiza no ano em que a Universidade de Caxias do Sul completa seu cinquentenário e esta é a sexta vez, em 50 anos, que a Instituição reconhece com o título de Doutor Honoris Causa, homenageando aqueleas personalidades que tenham contribuído de modo eminente para o progresso das ciências, letras ou artes, ou tenha prestado relevantes serviços no campo das atividades culturais. Dentro da hierarquia de títulos honoríficos, o Doutor Honoris Causa é o mais nobre e o de mais alto grau que uma universidade pode conceder.

O início da solenidade – com a presença de autoridades acadêmicas e da comunidade – teve a participação do Pavilhão de Bandeiras (do Brasil, da Itália, do Rio Grande do Sul, de Caxias do Sul e da UCS), da Banda Marcial do Instituto Estadual Cristóvão de Mendoza.  O reitor Evaldo Kuiava conferiu o título de Doutor Honoris Causa a Nuccio Ordine, proposta do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) e aprovada pelo Conselho Universitário, conforme os artigos 213 e 214 do Regimento Geral da Instituição.

“Os títulos não pertencem às pessoas, mas ao processo que as levou ao conhecimento.”

Nessa sua vinda mais uma vez ao Brasil – no ano passado esteve na UCS para lançar “A utilidade do inútil” – , Nuccio Ordine mostrou-se emocionado ao receber o título de Doutor Honoris Causa na Universidade de Caxias do Sul. Em seu discurso, afirmou que “os títulos não pertencem às pessoas, mas ao processo que as levou ao conhecimento”. Ele destacou a missão essencial do professor que é a de transformar a vida dos seus alunos através da educação e no quanto as instituições de ensino devem ser responsáveis por formar pessoas capazes de pensar por conta própria, que sejam capazes de mudar a sua vida e a vida do seu entorno. Também disse que as escolas devem permitir que os professores se dediquem mais a seus alunos. Segundo Ordine, “os professores devem permanentemente fazer duas coisas: estudar e ensinar”. Ao abordar o contexto político, econômico e social da Itália e do Brasil, Ordine criticou os governantes que buscam medir a dignidade humana pelo dinheiro que suas ações podem gerar. “Os governos cortam as verbas das universidades e da cultura, o que na visão deles não gera lucro. Uma população sadia é uma população instruída e quando os governos dizem que não há dinheiro para a cultura, isso quer dizer que não há futuro para a população”.

Por uma sociedade mais humana

Ao longo desses 50 anos, a Universidade de Caxias do Sul já realizou diversas homenagens, principalmente neste ano de 2017, como a outorga das medalhas Méritos Cientifico, Comunitário e Educação. Em sua fala, o reitor Evaldo Kuiava, que é professor Filosofia e atua na área das Ciências Humanas,  “é uma honra participar e presidir esta sessão solene do Consuni que vem outorgar o título de Doutor Honoris Causa a Diamante Nuccio Ordine, defensor daquilo que posso dizer que para os incautos é inútil, mas, para nós, é imprescindível: a Arte, a Cultura e a Filosofia”.

O reitor fez referência aos primórdios do ensino superior em Caxias do Sul e à origem da própria Universidade. “Caxias do Sul, berço da imigração italiana no Rio Grande do Sul, historicamente é uma cidade voltada para a arte e a cultura. Ainda nos anos de 1940, como prova disso, os cidadãos caxienses apresentaram uma sensível demanda por cursos superiores de música e artes plásticas, fazendo nascer, dez anos mais tarde, a Escola Municipal de Belas Artes, iniciativa liderada pela Câmara de Vereadores do Município e por lideranças comunitárias, com o objetivo de desenvolver a cultura local. Diante disso, vemos que para a perpetuação de uma cultura industrial na cidade foi preciso, além da promoção do ensino técnico e científico, uma força coletiva inclinada para uma visão humana, buscando se desvincular das perspectivas limitadas de uma educação mercantilista, direcionada exclusivamente para o mercado de trabalho, para a construção de uma cidade meramente geradora de empregos. Há 50 anos, na Universidade de Caxias do Sul, cultivam-se a cultura, o conhecimento, a ciência e a arte, esta linguagem fascinante adotada pelo ser humano”.

E concluiu: “Assim como Nuccio Ordine, nosso homenageado deste dia, a Universidade de Caxias do Sul e a sua comunidade anseiam por tornar a humanidade mais humana. Nesse sentido, como lócus do saber técnico, científico e, principalmente, humano, a UCS busca promover uma educação de excelência em resistência ao utilitarismo, visando ao desenvolvimento e ao bem-estar de todos. Concordamos com o professor Nuccio, formar cidadãos significa formar homens e mulheres cultos, capazes de pensar criticamente e de abraçar os grandes valores da humanidade – a solidariedade, o amor ao bem comum, a justiça. Se não formamos cidadãos cultos, livres e capazes de exercer a crítica, será difícil pensar uma humanidade mais humana”.

“O que ganhamos com a cultura?”

No UCS Teatro, com um auditório lotado de acadêmicos de diferentes cursos, logo após a sessão solene, Nuccio Ordine fez a conferência “O que ganhamos com a cultura?”, quando propôs uma reflexão sobre o valor da cultura para além dos seus impactos econômicos no setor cultural, sobretudo seu valor constituinte da essência humana.

Para Ordine, “os estudantes devem ir às universidades para buscar conhecimento, para se tornarem cidadãos cultos, homens e mulheres livres. Mas a sociedade que cultua o mercado quer que acreditemos que ir à universidade se justifica somente pela obtenção de um diploma”. Na sua visão, o mais importante é o caminho, as experiências que podemos viver, a paixão pelo conhecimento. “Hoje, vivemos na sociedade da mensuração, que gira em torno de cifras, de valores econômicos e essa lógica corrompe as relações entre as pessoas. Mas os números não são parâmetro para tudo. Felicidade e beleza não têm a ver com dinheiro”

Com referências a citações de filósofos, escritores e cientistas, Nuccio Ordine prendeu a atenção da plateia ao defender ideias como: em uma relação cultural todos ganham; construir relações de amizade demanda tempo; é na lentidão que se aprende; a cultura é o antídoto do capitalismo; a filosofia não serve, ela nos ensina a ser livres; o saber não se compra; só o esforço individual leva ao conhecimento; para fazer ciência e tecnologia é essencial ter criatividade; o cientista precisa ser um humanista.

Ao final, o professor Everaldo Cescon, diretor da Área de Conhecimento de Humanidades, anunciou que a conferência será traduzida e publicada pela Universidade.

Fotos: Claudia Velho