Artigo sobre o uso de nanocápsulas de fungicidas na prevenção da podridão da maçã é publicado pela Food Chemistry.

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 20/05/2020 | Editado em 22/05/2020

Trabalho de cunho multidisciplinar, resultou dos estudos do Mestrado em Biotecnologia, de Gabriela Antonioli, e teve a participação de pesquisadores da área da Biotecnologia, da Química e da Agronomia. A Food Chemistry é uma prestigiada revista internacional que publica na área da Química, Alimentos e Agrotecnologia.

A engenheira química Gabriela Antonioli apresentou sua dissertação de Mestrado, com o trabalho Desenvolvimento de nanocápsulas de poliácido lático contendo óleo essencial de capim-limão e avaliação contra fungos fitopatogênicos, no dia 1º de novembro de 2019. Com a orientação do professores Thiago Barcellos da Silva e Gabriel Fernandes Pauletti (co-orientador), seu projeto de Mestrado se insere no contexto da busca de novas tecnologias ambientalmente confiáveis que contribuam para a produção de alimentos mais saudáveis.

Publicado na Food Chemistry, o artigo, resultante do trabalho de pesquisa da Gabriela, discorre sobre o desenvolvimento de uma nanocápsula de poliácido láctico contendo óleo essencial de capim-limão, um antifúngico natural para Colletotrichum acutatum e Colletotrichum gloeosporioides, fitopatógenos presentes em diferentes cultivares de maçã, entre eles a maçã, causando a popular “podridão da maçã”.

Como os óleos essenciais costumam apresentar um alto grau de volatilidade e fotodegrabilidade, os pesquisadores optaram por encapsular o óleo essencial de capim-limão em nanocápsulas estáveis com morfologia esférica, de diâmetro médio de 96,4, nm e eficiência de encapsulamento de 99%, o que possibilitou a liberação mais gradual do óleo. No ensaio in vivo com maçãs pós-colheita, as amostras tratadas com cápsulas essenciais encapsuladas mostraram lesões de podridão amarga três vezes menores que as tratadas com óleo essencial não encapsulado.

Imagem de microscopia eletrônica de varredura das nanocápsulas de óleo essencial com atividade fungicida.

Segundo o professor Thiago Barcelos, um dos autores do artigo publicado pela Food Chemistry, “como estamos em uma região grande produtora de frutas, inclusive de maçã, acreditamos que esta tecnologia, cujo o pedido de patente já foi depositado, pode trazer benefícios aos produtores, e não só aos produtores de maçã, pois acredita-se que esse modelo pode ser utilizado em outros cultivares com resultados positivos também”.

O professor Matheus Parmegiani Jahn, coordenador de Pesquisa da UCS, destaca o potencial de aplicabilidade da pesquisa, que pode evoluir para um possível serviço tecnológico a ser oferecido aos produtores da região. “Esse é mais um exemplo da aplicação da Ciência, transformando conhecimento científico em solução tecnológica para os problemas reais da sociedade. Podemos dizer, que é a UCS cumprindo a sua missão institucional”, conclui.

Uma metodologia inovadora e acessível

“A podridão amarga é a principal doença pós-colheita em maçãs. Um dos principais fungos causadores desta doença é o Colletotrichum gloeosporioides, que se instala em pequenos ferimentos causados por choques e arranhões do fruto, causando lesões circulares, de cor parda ou marrom. A podridão amarga traz várias consequências econômicas uma vez que o consumidor evita adquirir os frutos considerados estragados, contribuindo para o desperdício de alimentos.

O principal controle da podridão amarga é o uso de fungicidas sintéticos que sofre restrições tanto no mercado nacional como no mercado internacional uma vez que há uma crescente preocupação pelo consumidor em adquirir produtos livres de agroquímicos, como os fungicidas sintéticos.

Por outro lado, a natureza nos presenteou com fúngicas naturais com nenhum ou baixíssima toxicidade para os humanos que podem ser empregados como métodos alternativos e assim minimizar os impactos ambientais. Moléculas que apresentam essa atividade fungicida são encontradas nos óleos essenciais de várias espécies de vegetais, como por exemplo o capim-limão, fonte do óleo essencial utilizado no trabalho. Mas há um detalhe importante que o óleo essencial, além de possuir a atividade fungicida desejada, ele também apresenta ação necrótica, aumentando ainda mais a lesão no fruto.

Com este trabalho conseguimos evitar o efeito indesejado encapsulando o óleo essencial em cápsulas compostas de um polímero biodegradável e não tóxico. Essas capsulas tem um tamanho médio de 96 nm (1 nanometro equivale a um bilionésimo de 1 metro) e liberam o óleo essencial de forma gradual e lenta. Assim, evitamos o efeito necrótico e podemos manter a ação fungicida por longos períodos.

A metodologia desenvolvida neste estudo possibilita a preparação em larga escala das nanocápsulas e a um custo baixo”.

Professor Thiago Barcellos.