Segundo o professor Mateus Panizzon, seu projeto de Tese buscou descobrir por que algumas empresas brasileiras do setor metal mecânico e automotivo, de médio e grande porte, têm maior desempenho em inovação de produto no mercado internacional do que outras e que características organizacionais podem ser melhor desenvolvidas para alcançar melhores resultados no âmbito da sua capacidade em desenvolvimento de novos produtos.

“A contribuição científica ocorre a partir da validação de um modelo preditivo que explica estas relações, pois identifica um padrão de comportamento no setor estudado. No mundo inteiro, não havia, até o momento, outro modelo que testasse simultaneamente estas características e atingisse esse alto poder explicativo, e, nesse sentido, a minha Tese atende a critérios de originalidade e, por isso, foi recomendada para participação no prêmio. Outra questão é que, apesar da importância do setor metal mecânico e automotivo brasileiro e sua representatividade no PIB, pode-se argumentar que há poucos estudos científicos sobre isso, se observamos o que se faz na América do Norte, Europa, e em crescimento, na Ásia. Então nesse ponto o avanço do conhecimento científico tem a ver com preencher estas lacunas teóricas e a validação deste modelo em nosso contexto, gerando novas descobertas, e sustentando futuros estudos na área de desenvolvimento de novos produtos e melhores práticas associadas, tendo por base as relações identificadas.

Para a comunidade industrial, o que essa teoria expressa, ao traduzirmos os resultados, é um conjunto de melhores práticas de gestão e operações que, se melhor desenvolvidas, tendem a contribuir com um maior desempenho de inovação de produto no mercado internacional. Dito isso, quando é parte da estratégia da empresa se posicionar em tais mercados, o modelo faz sentido. Isso ocorre porque as empresas brasileiras líderes em introdução de novos produtos no mercado internacional apresentaram de foram consistente as características selecionadas a partir de um amplo aprofundamento teórico, e posteriormente medidas com escalas confiáveis, bem como validadas a partir de protocolos e técnicas estatísticas robustas. O contrário também é observado: percebe-se a relação inversa entre baixo desempenho em desenvolvimento de novos produtos e inovação quando há baixo desempenho nas características analisadas. Uma das características de influência que podemos citar, por exemplo, é o nível de criatividade organizacional, ou as condições que a indústria fornece para a geração de ideias novas e úteis. É para se pensar sobre isso: as indústrias com maior capacidade inovadora também apresentaram, a partir das respostas fornecidas por respondentes de nível diretivo e gerencial, maior desempenho nas suas práticas de gestão relacionadas à criatividade organizacional, pois investem neste fator. Há uma relação estatística forte. Então, há modelos para essa situação: a empresa pode desenvolver internamente seus processos de ideação, ou fazer com menor custo e risco associando-se com startups (há montadoras que já fazem isso) ou participando,  em uma maior proximidade com as universidades, na geração de novos produtos e processos, por exemplo, com o apoio de ambientes de pré-aceleração, e com modelos híbridos. Isso vai depender da sua estratégia.

Criatividade na Indústria
Hoje se fala muito em Indústrias Criativas, que são os setores que envolvem Design, TI, Moda, Games, Cinema etc, e seu potencial econômico. Mas precisamos falar mais sobre ‘Criatividade na Indústria’, principalmente quando se tem uma agenda nacional via CNI, FIERGS, por exemplo, estimulando Inovação e Internacionalização na indústria de manufatura. Criatividade e Inovação estão conectadas. É válido ressaltar que no estudo, se verificou que o nível médio de desempenho das empresas no modelo foi de 54%, o que demonstra potencial de melhoria, e está alinhado a outros estudos setoriais sobre Inovação na Indústria. Ainda, em uma perspectiva organizacional, é possível discutir que as características avaliadas no estudo também são base para o desenvolvimento do atual conceito de Indústria 4.0, uma vez que fatores como nível de integração, de tecnologia e de flexibilidade também foram analisados. Mas, o fato é que precisamos estudar mais a Indústria por outras lentes, pela sua capacidade de geração de valor direta e indireta na sociedade”.

A Tese em si tem esta propriedade: buscou trazer uma nova visão do ponto de vista científico sobre características que influenciam a habilidade em desenvolvimento de novos produtos e a capacidade de introduzir de forma pioneira novos produtos no mercado internacional, mas ao mesmo tempo seus resultados lançam uma perspectiva de diagnóstico e proposição de práticas gerenciais para o desenvolvimento das indústrias no âmbito estudado. Como o timing da coleta foi no auge da crise brasileira no setor, o modelo se torna ainda mais expressivo, pelo grau de turbulência que estas empresas estavam submetidas. Mas, como qualquer estudo científico, tem suas limitações, e agora a ciência avança na medida em que outros pesquisadores vão se apropriado dos resultados, replicando o estudo, confrontando, enfim, submetendo este modelo a novas coletas e análises. Fica o convite aos novos pesquisadores para darem sequência ao tema e, para os empresários, para olharem o estudo como práticas de benchmark de empresas do setor, que foi realizado com um método consistente de análise e de validação”.