Uma mulher de oitenta e cinco anos desvela suas memórias. Nascida em 1934, na comunidade rural do Bom Respiro, Jaguari, Rio Grande do Sul, Benvinda Flores descreve sua trajetória e vai além - olha para o tempo, para o mundo e para si. Um olhar com poesia sobre o caminho e o entorno. Desde a infância, quando desconhecia a energia elétrica e a água encanada, e quando o único relógio da casa dormia no bolso de seu pai, até o mundo hiperconectado de hoje e dos netos. Passa por questões existenciais, como a maternidade, a infância, a velhice, a localização do "eu" no tempo, o ser mulher, a morte, e por reconstruções históricas erigidas pela lembrança da voz dos velhos da comunidade ou por suas próprias cogitações. Olha para o rio e o compara com sua existência, paira sobre as águas e imagina os Guaranis que por ali habitavam há quatrocentos anos e o primeiro encontro do primeiro Guarani com o primeiro padre jesuíta. Avança, revive o seu amor com um filho de italianos e navega por travessias de mares, refletindo sobre migrações. Percorre pais, filhos, netos e vê em cada um deles um universo. Com cada um aprende e ensina. Transita por todos esses lugares pelo fio condutor da arte de contar histórias, seu dom maior.