Sustentabilidade

Uma nova forma de pensar a moda

Projeto "A Moda no Terceiro Milênio: novos valores e novas práticas" mostra que o artesanato é um grande aliado da criação sustentável.

A moda, como representação de comportamento, não pode sair de "moda". Para que isso aconteça, deve sintonizar com o espírito do tempo. As indústrias, para desenvolverem as suas criações, observam a sociedade, a educação e a economia. Por conta dessa observação, um novo movimento está sendo incorporado ao vestuário.

"A moda, durante muito tempo - e mesmo hoje -, trabalha com o valor absoluto que é a novidade. Recentemente um novo valor está ganhando espaço: a sustentabilidade. Ao falar em sustentabilidade, falamos em seus três aspectos: ambiental, social e econômico", explica a professora do curso de Tecnologia em Design de Moda, Ana Mery Sehbe De Carli. Ela ainda complementa afirmando que este novo valor tem propiciado a investigação de novas práticas de criação e produção de moda.

Ana Mery coordena um projeto na UCS, que procura mostrar como o artesanato pode agregar valor ao vestuário e à moda casa.

A moda e o artesanato

Oportunizar novas práticas de moda foi um dos objetivos do projeto "Moda no terceiro milênio: novos valores e novas práticas", que também analisou valores comportamentais de criar, produzir e consumir moda, além de testar novas práticas para sua produção, priorizando a sustentabilidade e a inclusão.

Durante a realização do projeto, designers ministraram as "Oficinas de Protótipos de Moda" (Promoda), para artesãs de Caxias do Sul, a fim de instrumentalizá-las para incorporar o artesanato à moda.

"O artesanato trabalha num terreno confortável, pois, desde que surgiu, foi pensado em peças para uso doméstico, como o pano de prato, enfeites para a cozinha, etc... Durante as oficinas, buscamos ensinar às artesãs a trabalhar com as tendências de moda. Uma boa composição, bom estudo de forma, de cor e de desenho, para que chegue no mercado com um visual (look) mais atraente e valorizado pelo fato de ser feito à mão", destaca Ana Mery.

Patchwork era remendo

Na companhia de linhas, agulhas e tecidos, a costureira Neli Breda sempre esteve à frente da sua máquina de costura. Na vida de uma profissional que dedica horas e horas a uma atividade, muitos hábitos são adquiridos e padrões são estabelecidos.

Na busca por novas ideias, Neli estava matriculada em um curso de Artes do programa institucional da UCS, a Universidade da Terceira Idade (UNTI), quando conheceu o Banco do Vestuário de Caxias do Sul e, na sequência, as oficinas do Promoda, desenvolvidas no Centro de Artes e Arquitetura. No início das oficinas, a costureira percebeu que sabia fazer muito do que era ensinado durante as aulas. "Aprendi a fazer muita coisa com a minha mãe", conta.

A possibilidade de incrementar peças de roupa com o artesanato confeccionado a partir dos saberes adquiridos ainda na infância e na adolescência passava despercebida na rotina de Neli. "Patchwork, pra mim, era sinônimo de pobreza. Era remendo", destaca. Hoje a visão e opinião são outras e o patchwork - trabalho realizado com retalhos - tem um novo perfil para a costureira, que venceu o próprio preconceito a partir do conhecimento adquirido nas oficinas. Calças, blusas e camisas deixam a sua sala de costura com a particularidade do artesanato.

Realização pessoal

O desenvolvimento das oficinas - seis no total que atenderam cerca de 80 pessoas - , mostraram novas formas de pensar e de criar moda. As participantes puderam conhecer tendências e aprender técnicas para harmonização de cores, e desenvolveram seu lado criativo. "Aprendemos a deixar de lado as revistas, de onde copiávamos modelos, e passamos a nos inspirar nas formas da natureza. Hoje, eu olho uma flor e sei copiar suas formas para reproduzí-la em crochê", detalha a artesã Lourdes Bianchi.

O projeto também deu autonomia. Por meio da oficina "Aprendendo a ensinar", elas se tornaram instrutoras de artesanato, assim, além de produzir sua própria arte e inserí-las na moda, as participantes podem transmitir os conhecimentos adquiridos por meio das oficinas.

Ministrar aulas de crochê é a realização pessoal de Lourdes. "A vontade de dar aulas surgiu na minha adolescência. Foi um sonho que se realizou com o projeto", revela.






Moda associada

Da amizade e do empenho das alunas do Promoda, surgiu a Associação de Artesãs da Serra Gaúcha - Damas e Tramas, formada por um grupo de 17 mulheres que frequentaram as oficinas.

A "Damas e Tramas" desenvolve e oferece produtos artesanais, além da prestação de serviços a indústrias, agregando artesanatos em produtos industrializados e ao público em geral para capacitação em artes artesanais têxteis.

O toque artesanal e a cooperação são focos da Associação, pois até chegar ao fi nal, cada peça passa por no mínimo três artesãs. No trabalho em conjunto, as associadas planejam coleções anuais sempre com foco no artesanato aliado à moda de mercado. "Cada parte de um produto de moda feito à mão é único. O que é produzido industrialmente está sempre ligado ao padrão. Durante um tempo, se valorizou muito a produção industrial de qualidade. Hoje, se quer uma produção industrial de qualidade, mas se puder ter um toque de artesanato, melhor ainda", comenta a professora Ana Mery, uma das tutoras da "Damas e Tramas" e também associada.

A moda em livros

O tema moda é abordado em livros de professoras da Universidade e editados pela editora Educs. O título "Moda em Sintonia" (2010), organizado por Ana Mery Sehbe De Carli e Mercedes Lusa Manfredini, reúne diversos artigos de pesquisadores da área. É focado na atualização e no aprimoramento de designers, profissionais da área e especialistas.

A obra "Moda, Sustentabilidade e Emergências", organizado por Ana Mery Sehbe De Carli e Bernardete Lenita Susin Venzon, apresenta as três dimensões da sustentabilidade: social, ambiental e econômica.

O livro "O Sensacional da Moda" (2002), de autoria de Ana Mery Sehbe De Carli, é um estudo contextual, conceitual, descritivo e poético.

(Texto: Wagner Júnior de Oliveira; Fotos: Claudia Velho)



Revista UCS - Publicação da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.

O texto acima está publicado na décima edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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