O desafio da convivência no ambiente universitário

No encontro com os professores da Instituição, no início das atividades letivas de 2015, tratei de vários temas: o sentido da universidade comunitária; a excelência acadêmica como horizonte; a importância de estabelecer parcerias em um mundo de muitas conexões e na certeza da impossibilidade de darmos conta de tudo sozinhos; a inovação enquanto cultura organizacional que, aliás, não é modismo de ocasião, mas necessidade imperativa de construção de novos caminhos nas esferas mental e estrutural. Abordei, ainda, a importância de mudarmos alguns paradigmas da gestão, sob pena de não cumprirmos nosso papel de vanguarda, próprio das universidades de destaque nacional e internacional. Acenei também para a possibilidade de desenvolvermos, cada um de nós, de forma saudável, nosso projeto de vida dentro da Universidade e de fazermos de nosso local de trabalho um espaço de convivência, de trocas enriquecedoras e de realização de projetos de vida pessoal e profissional.

Na sequência de minha fala, fomos brindados com a exposição, de clareza meridiana, da professora Márcia Capellano que, com o sugestivo título Conversando sobre Hospitalidade e Convivência, prendeu a atenção dos cerca de 750 professores reunidos no UCS Teatro.

O tema abordado pela professora não foi escolhido ao acaso, nem mesmo foi acaso a escolha da professora Márcia para falar no encontro. Não. Tenho refletido muito sobre o papel da Universidade e, nos encontros que venho realizando com professores, funcionários e gestores, tenho provocando a todos para pensarem comigo. Em meio às muitas ideias que traduzem modelos que transitam entre o antigo, o moderno e o pós-moderno; entre ideias que indicam que devemos estar alinhados ao mercado e ideias que salientam a necessidade de estarmos à sua frente, sem a subserviência ou até a ditadura do pragmatismo mercadológico; em meio a tudo isso, uma coisa é certa e clara: a Universidade deve ser o local da promoção da convivência das pessoas e das ideias. Explico-me: as relações de ensino e aprendizagem são, na verdade, momentos de convivência. Aprendemos na relação com os outros. Ou ainda, não aprendemos se não formos atravessados pela significação que o outro me ajuda a apreender.

Em síntese, o aprendizado é favorecido pela convivência entre os atores desse processo. Mas, não só saliento a sala de aula como espaço de convivência e aprendizado, como destaco também o espaço fora da sala, nos mais diversos ambientes.

A propósito, temos um plano de ampliação de espaços de convivência dos estudantes e professores nas áreas externas às salas. Em muitas universidades mundo afora observo que a efervescência da reflexão acadêmica pode ser identificada através dos grupos que se reúnem para estudos, se reúnem para seminários livres, se reúnem pelo campus... A ocupação dos espaços e sua adequação para a promoção da discussão acadêmica e para o convívio com o diferente vai ao encontro da ideia de que a sala de aula é um bom começo, mas deve ser ampliado pelo grupo que se reúne para além dela, nas comunidades de estudos, nas rodas de conversa, nos espaços de leitura ou nos laboratórios, onde a convivência impulsiona novas descobertas e aprendizagens.

Em largas passadas, aludimos ao porquê do tema do encontro dos professores. Quanto ao fato de ter sido a professora Márcia, deve-se à expertise dela e do grupo de estudos do Programa de Hospitalidade, que agora tem, além de um mestrado, um doutorado na área. Isso torna robusta nossa reflexão sobre o humano e amplia as nossas áreas de investigação. Ou seja, temos elementos internos, aportes teóricos, que nos ajudam a pensar nossa tarefa e nossas relações neste vasto universo da formação superior, investigação e aplicação da ciência.

No contexto atual onde o real, o tecnológico e o virtual se entrelaçam, o humano deve ter a supremacia. O cuidado com o humano não pode ser secundarizado, sob pena de fazermos uma inversão de valores. Ciência e convivência não se opõem, salvo nas mentes que dicotomizam vida e educação. E a educação é, em última análise, o processo de humanização.

Professor Doutor
Evaldo Antonio Kuiava
Reitor



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O texto acima está publicado na décima sexta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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