O perigo
da internet
das coisas

A integração entre produtos utilizados no dia a dia com a internet pode sinalizar um grande benefício para a realização de certas atividades, porém, alerta para um grande problema do século XXI, a segurança da informação.

ANA LAURA PARAGINSKI | alparaginski@ucs.br

Um dos assuntos mais procurados nos buscadores da web em 2014 foi a internet das coisas. Quando se fala no tema, a primeira coisa que vem à cabeça dos consumidores é a praticidade que se pode ter com produtos integrados à tecnologia sem fio, automação, sensores e conectividade. Afinal, você estar no trabalho e programar a sua máquina de café e a panificadora para que seu lanche fique pronto na hora que chegar em casa é ou não é um grande benefício? Ou então, você está no congestionamento e vem uma forte tempestade fazendo com que você lembre que as janelas do seu apartamento estão abertas e a chuva vai molhar tudo, mas pode fechá-las de onde estiver, basta estar conectado. E já pensou você ter uma geladeira que escaneia o que tem dentro e envia para o seu smartphone a lista de compras? Esses são exemplos simples do uso da internet das coisas.
Esse ainda é um conceito em desenvolvimento e consiste em uma rede de aparelhos usados no dia a dia ligada a uma base de dados e à internet, permitindo a comunicação entre todos esses objetos. Dentre eles estão carros, eletrodomésticos, smartphones, tablets e muito mais.



Popularização da tecnologia
Embora essa tecnologia já esteja disponível para compra no mercado, ela ainda não se tornou popular. Para a professora do Programa de Pós-Graduação em Administração da UCS, Ana Cristina Fachinelli, a internet das coisas começa a se configurar como uma possibilidade interessante de negócios e, por isso, pode vislumbrar e permitir estratégias de Marketing.
Ainda desconhecidas da maioria da população, essas tecnologias podem levar algum tempo para se tornar parte do cotidiano das pessoas. Segundo Ana, na medida em que os benefícios agregados desta tecnologia fiquem claros, e se traduzam em melhorias na saúde (vida saudável), praticidade e comodidade (facilitar a vida das pessoas) e que permitam criar na vida das pessoas vantagens de rapidez e interação (similar ao que as redes sociais trazem na comunicação e integração), as pessoas passarão a utilizar mais estes serviços. "A simples banalização destes, seja com melhoria ao acesso e redução de custos, com a consequente produção em escala, não significa o aumento da utilização dos mesmos. É fundamental que os usuários percebam valor em sua utilização", salienta.

Cenário de vulnerabilidades

Carro
Relatório do senador americano Edward Markey indica que hackers podem controlar motor, freios e faróis, além de interferir nos medidores de gasolina e velocidade.

Babá Eletrônica
Em 2013, um casal do Texas (EUA) escutou uma voz gritando obscenidades para a filha por meio do monitor da Foscam. Havia falhas de segurança no acesso ao aparelho.

Termostato
A empresa TrapX Security alertou que o aparelho da Nest, comprada pelo Google, pode ser hackeado se houver acesso físico com ele (não pela internet). Se for comprado de terceiros, em sites como eBay, pode ser usado como plataforma para invadir outros sistemas domésticos.

Geladeira
Em 2014, 100 mil aparelhos como roteadores, televisões e ao menos uma geladeira foram usados para disparar 750 mil spams; houve falha de configuração nos produtos.

Marca-Passo
Sistema que regula o batimento cardíaco sem fio para transmitir informações, fazer ajustes e carregar bateria. Armazena dados sensíveis do usuário e poderia ser invadido para matá-lo, como mostrou o especialista Barnaby Jack.

Segurança da informação

Porém, por trás de tanta praticidade, uma preocupação cerca os estudiosos: a segurança da informação. "Vejo como desafio a questão ética e legal da invasão ainda maior de empresas de produtos e/ou serviços nas casas e na vida das pessoas, e de como este tipo de informação resultante será utilizada. Ela pode sim ser utilizada em benefício do usuário, na mesma medida ou da mesma forma como pode ser utilizada contrariamente em benefício de outrem", alerta Ana.

Segundo analistas da Symantec, companhia pioneira em antivírus pessoais, entre os principais problemas de segurança elencados para 2015, a internet das coisas está em primeiro lugar. A professora da disciplina de Segurança da Informação dos cinco cursos na área de Informática da UCS, Maria de Fátima Webber do Prado Lima, é enfática ao dizer que o foco dos estudos sobre internet das coisas, hoje, está na segurança dos dados por elas utilizados e nelas inseridos.

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com 16 grande fabricantes de carros, mostra que quase 100% dos carros no mercado americano, hoje, incluem redes de comunicação sem fio que podem ser vulneráveis a ataques ou roubo de dados pessoais. Os maiores problemas estão relacionados à privacidade, falta de autorizações suficientes, falhas de criptografia e softwares inadequados de proteção. Uma pesquisa realizada pela HP Security Research levou à conclusão de que 70% dos aparelhos ligados à internet das coisas têm falhas graves de segurança e estão sujeitos a ataques de hackers. Durante os testes, foram analisados os 10 tipos de aparelhos mais vendidos atualmente para esse tipo de uso e foi encontrado um total de 250 vulnerabilidades. Problemas de privacidade, autorizações insuficientes, falta de criptografia de transporte de dados, interface web insegura e softwares de proteção inadequados foram alguns dos erros encontrados.

Para Maria de Fátima, é imprescindível que se desenvolva uma cultura que leve em conta os riscos que os usuários podem correr com a utilização desta tecnologia. "As pessoas devem pensar antes de se expor através do que está interligado com as redes sociais, por exemplo", alerta. A especialista utiliza um esse exemplo corriqueiro na vida de quem está presente nas redes sociais para ilustrar a vulnerabilidade do mundo atual: "Quando fizemos check-in em um lugar através das redes sociais, estamos dizendo "Não estou em casa!". E isso pode alertar pessoas mal intencionadas que poderão se utilizar da informação para seu proveito". Para ela, os usuários devem se resguardar, preservando as suas vidas, de seus familiares e amigos e seus bens.

Mas, nem tudo está perdido. Apesar do cenário pouco otimista, a cibersegurança será fortalecida por parcerias e colaborações na indústria. A indústria de segurança está unindo forças com provedores de telecomunicações e governos do mundo todo para combater crimes virtuais. Neste ano, enquanto os criminosos do ambiente virtual continuarem buscando alternativas, as plataformas de código aberto continuarão a abordar vulnerabilidades com ainda maior coordenação, colaboração e resposta da indústria.




Revista UCS - É uma publicação bimestral da Universidade de Caxias do Sul que tem como objetivo discutir tópicos contemporâneos que respondam aos anseios da comunidade por conhecimento.

O texto acima está publicado na décima sétima edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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