Depois de um período tranquilo à economia, o Brasil passa por uma etapa de cortes de gastos nas contas públicas. Veja quais são as perspectivas para o futuro.

VAGNER ESPEIORIN | vaespeio@ucs.br

Por dentro
do ajuste

Durante um bom tempo, a economia brasileira surfou bem sobre uma onda instável. O cenário mundial via as principais potências mergulhadas em um caos financeiro, enquanto os países emergentes, embora sentissem os respingos do mar revolto, demonstravam equilíbrio para alavancar suas contas. No Brasil, o Produto Interno Bruto (PIB) crescia a níveis satisfatórios, o estímulo ao consumo fluía bem, as empresas exibiam um bom desempenho e as commodities - produtos exportados pelo Brasil - eram vendidas como protetor solar na praia.

A partir de 2011, porém, começou a ressaca. Os preços das commodities passaram a despencar, o PIB do setor primário perdeu representatividade, o consumo diminuiu e as empresas ficaram receosas em fazer novos investimentos. A economia perdeu fôlego e o pior: viu um índice preocupante avançar.

"A economia cresceu em patamares superiores aos compatíveis com uma inflação controlada", explica a professora do curso de Ciências Econômicas da UCS Mônica Beatriz Mattia. De forma didática, a economista nos ajuda a entender melhor o processo pelo qual passa a reestruturação econômica. Confira:

Os motivos que levaram à crise
Mônica explica que o Estado brasileiro avançou muito na área social, o que foi benéfico para os segmentos favorecidos e para o país que viu sua População Economicamente Ativa ocupando novos postos de trabalho. O governo, porém, deixou de promover transformações estruturais. O foco no mercado interno de consumo impulsionou a inflação provocando a necessidade de corrigir os rumos econômicos.

Corte de gastos x Estímulo à receita
Cortes de gastos costumam assustar pela mudança de rumos que se impõe à política macroeconômica e por representarem medidas impopulares. O aumento de receita traria a perspectiva de crescimento econômico, mas há um alerta: ele provocaria uma nova subida da inflação. "Cortando gastos, o governo desacelera a inflação, reestrutura as contas públicas e restringe o crédito. A redução da atividade econômica poderia ser compensada pelo aumento das exportações com a taxa de câmbio mais favorável", salienta.

Durante o ajuste
Enquanto as contas estiverem sofrendo correções de rumos, as perspectivas não são nada boas. Mônica explica que muitos indicadores econômicos devem apresentar desempenho negativo e é possível que tenhamos um período de recessão econômica (baixo crescimento + alta inflação).

Após o ajuste
Se tudo der certo, o futuro deve guardar boas expectativas. Redução dos preços, queda na taxa de inflação, reequilíbrio do orçamento do governo, aumento dos investimentos e do consumo, aumento da produção, aumento do volume de emprego, aumento dos salários e dos lucros empresariais são alguns dados relevantes que devem resultar após o ajuste.

Para ficar de olho...
As consequências do ajuste financeiro das contas públicas podem ser amenizadas por fatores externos. A economista elenca três para dar uma atenção especial:
1) A retomada de crescimento dos Estados Unidos, da China e da Europa.
2) O retorno da agenda de investimentos em infraestrutura, no segundo semestre, estimulado por concessões de serviços públicos ao setor privado.
3) A reorganização da Petrobras. Sozinha, ela representa 5% do PIB nacional.




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O texto acima está publicado na décima sétima edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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