Parceria
Cooperação que dá certo

O diálogo permanente entre Universidade e mercado estimula a criação de respostas a problemas que podem surgir no mundo do trabalho. Mais do que isso, as parcerias entre o mundo acadêmico e o meio empresarial ajudam a identificar novas oportunidades e a transformar os desafios em estratégias de desenvolvimento pessoal e comunitário.

Camila Rachel Tonin de Andrade, 24 anos, circula com destreza pelos corredores do setor de Tecnologia da Informação da empresa farroupilhense Grendene. Entre os colegas, a jovem estudante de Sistemas de Informação conversa sobre o dia a dia na organização e sobre as atividades que realiza.

Durante a visita que os alunos do curso de Sistemas de Informação fizeram à Grendene, em Farroupilha, a acadêmica teve um duplo papel. Ela é uma das programadoras da empresa calçadista. No dia 15 de outubro, porém, ela era também uma entre os 16 integrantes do grupo formado por estudantes da disciplina de Sistemas Integrados II. Sob a supervisão do professor Daniel Faccin, os acadêmicos puderam conhecer melhor a estrutura da empresa que conta com filiais espalhadas pelo País.

A grande dimensão empresarial ajuda a compreender o foco que a Grendene dá à Tecnologia da Informação (TI). "Temos cerca de 30 mil funcionários, distribuídos entre as unidades localizadas nos Estados do Ceará, da Bahia e do Rio Grande do Sul. Devido ao alto volume de produção, precisamos de um sistema de comunicação ágil e eficaz entre as unidades", contextualiza a analista de Recursos Humanos, Rejane Santin. Para toda essa demanda, o departamento de TI conta com mais de 160 profissionais.

Conforme o diretor do Centro de Computação e Tecnologia da Informação, professor Marcos Eduardo Casa, a parceria surgiu a partir de um interesse duplo: da organização empresarial, por necessidade de captar novos talentos para compor o quadro de colaboradores, e da Universidade, que busca estreitar seus laços com o mercado, permitindo que os acadêmicos possam interagir mais de perto com os espaços profissionais.

A interação, por sinal, é o grande diferencial da parceria mantida pela Universidade e pela Grendene. Apesar dos alunos poderem conhecer as instalações da empresa, o programa não fica restrito à visita técnica. "É mais do que isso. Os alunos têm aulas que contam com a contribuição dos profissionais de Tecnologia da Informação da própria Grendene", aponta Marcos Casa.

As atividades têm ainda a supervisão direta dos professores. A experiência, que se iniciou no primeiro semestre deste ano, já contou com a participação de 232 estudantes dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas da Informação, Tecnologias Digitais e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Somente no segundo semestre, foram quatro disciplinas que tiveram aulas ministradas na empresa, em Farroupilha.

Por se tratar de uma área em que há carência de recursos humanos, a cooperação facilita o processo de captação de talentos, mas não se resume a isso. Ela garante oportunidades aos estudantes. Oportunidade que Camila teve antes mesmo do programa começar, mas que ela não pretende largar tão cedo.

"Quero me formar entre 2015 e 2016 e pretendo me tornar Analista de Sistemas", reforça a acadêmica ao demonstrar a intenção de crescer dentro da organização calçadista.

Em busca de um vinho melhor

A pesquisa por melhorias da qualidade de vinhos e espumantes movimenta as rotinas da doutoranda em Materiais, Kélen Cristófoli, de 28 anos. Formada em Química, ela tem desenvolvido, tanto no mestrado quanto no doutorado, projetos que buscam encontrar melhorias para os produtos de uma Vinícola de Bento Gonçalves, onde trabalha.

Kélen estuda, sob a orientação da professora Mára Zeni Andrade, uma membrana na tentativa de aprimorar o processo de filtração do vinho. Conforme a doutoranda, o vinho, no final do processo de fermentação, apresenta uma aparência leitosa. Nessa fase, o líquido precisa passar por uma espécie de clarificação, por meio de um filtro.

O processo é realizado atualmente com Terras Diatomáceas, mineral que retém as impurezas presentes na bebida da uva. O procedimento apresenta algumas inconveniências: a primeira, é o elevado custo; a segunda, é o resíduo que resulta do processo.

"As Terras Diatomáceas só podem ser utilizadas uma vez e depois precisam ser descartadas", explica a pesquisadora. Por uma questão de sustentabilidade, o descarte adequado é necessário, mas a formação de resíduos poderia ser evitada pelo processo de filtração com uso de membranas.

Vantagens do material

A membrana, desenvolvida por Kélen, tem base de cerâmica, que pode ser reutilizada, e evita a constituição dos resíduos. Além disso, o material empregado no estudo apresenta outras vantagens. Por ser um meio inerte, é mais eficaz na retenção de impurezas sólidas, como cristais. A estrutura permite alta durabilidade, utilização industrial por anos e manutenção da funcionalidade. Também elimina bactérias e leveduras remanescentes no vinho.

A pesquisa ainda se encontra em fase inicial, mas o próximo passo de Kélen é ampliar a capacidade da membrana em relação à quantidade de litros filtrados.

No caminho da cientista, no entanto, a pesquisa de Doutorado não foi o primeiro passo na qualificação de procedimentos destinados à empresa em que atua. No mestrado em Materiais, ela desenvolveu um polímero transparente para revestir as garrafas destinadas a espumantes rosados. A bebida, quando alocada em recipientes incolores, pode ter o gosto e o aroma modificados ou alterados pela exposição à luz nas prateleiras. "O espumante rosado tem substâncias fotossensíveis que acabam sendo oxidadas no contato com a luz", argumenta.

Com o polímero desenvolvido por Kélen, o tempo de vida do líquido na prateleira se expande de seis meses para dois anos. O invento possibilitaria uma diminuição de custos às empresas e evitaria a perda precoce de um produto que sequer foi aberto.

Na sequência dos trabalhos, a doutoranda pretende emplacar o polímero com alguma empresa produtora de garrafas. Com isso, a vinícola para a qual trabalha poderá utilizar em larga escala o experimento. O mesmo se aplica à membrana de cerâmica para filtrar o vinho. No final do estudo, a pesquisadora pretende patentear a invenção, que deverá aprimorar a produção do vinho.

(Texto: Vagner Espeiorin)



Revista UCS - Publicação da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.

O texto acima está publicado na sétima edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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