Ensino

Os traços desajeitados que formaram as primeiras letras, as experiências da Feira de Ciências ou a parceria na hora da escrita da monografia são recordações que muitos de nós carregamos com apreço, principalmente porque, em todas elas, tivemos um professor ao nosso lado.

No entanto, mesmo com fundamental importância para o desenvolvimento da sociedade em todos os seus aspectos, a figura do professor, no Brasil, parece não contar com o mesmo prestígio de algumas décadas atrás, principalmente quando o assunto é o ensino público para crianças e adolescentes. Prova disso, é o déficit de profissionais da educação básica hoje no país, contemplando Ensino Fundamental e Médio. Segundo dados do Ministério da Educação, atualmente a educação básica brasileira apresenta um déficit de quase 300 mil professores. As disciplinas: Física, Química, Matemática, Biologia, Geografia, Sociologia e Filosofia são as que apresentam maior necessidade de profissionais. Essa é uma situação complexa e preocupante.

Para refletir sobre esse cenário e sobre o aprimoramento dos cursos de Licenciatura da UCS, a Instituição reuniu especialistas em educação e criou uma comissão. Nesse grupo está o professor Vanderlei Carbonara, do Centro de Filosofia e Educação, que acredita que se por um lado há um diagnóstico bastante negativo sobre as condições atuais da educação, também é preciso considerar as mudanças que esse cenário exige.

"O fato de se saber da necessidade de um projeto educacional como prioridade da nação brasileira para alavancar seu desenvolvimento, bem como a constatação de que se está muito distante de uma educação capaz de contribuir para esta meta, cria a necessidade de mudanças expressivas nas ações que envolvem a educação e seus profissionais", afirma.

Nesse contexto, o que fazer para mobilizar o interesse em ser professor? Para a professora e pesquisadora em Educação Nilda Stecanela, diretora do Centro de Filosofia e Educação, um dos caminhos a serem seguidos é o investimento na formação docente. "Minhas pesquisas têm apontado que os conhecimentos específicos são importantes na qualidade da docência, mas, um investimento maior nos conhecimentos pedagógicos da docência se faz urgente. Explico: os jovens professores têm ido à escola e não conseguem ensinar, por exemplo, História, pois a relação pedagógica com os alunos não se estabelece por conta de uma diversidade de interesses e de culturas que habitam o espaço da sala de aula. Não basta saber tudo sobre os conhecimentos historicamente sistematizados, é preciso saber ter a competência de transformá-los em conhecimentos escolares, conforme o público para o qual são direcionados: infância, juventude ou vida adulta", avalia.

"A Universidade aposta nesse tipo de formação e está ciente da importância do seu papel frente às necessidades atuais da área da educação", afirma o reitor Isidoro Zorzi. Prova disso é que a UCS é a Instituição de Ensino Superior não estatal do Rio Grande do Sul com maior oferta de cursos de Licenciatura.

Profissão recompensadora

Se o cenário em que o professor está inserido apresenta algumas dificuldades, por outro lado, pode ser uma profissão muito recompensadora. É o que é possível perceber por meio das vivências de quatro casos de jovens apaixonados pela missão de educar, que você acompanha a seguir.

Pequenos cientistas na escola

Na aula de revisão de conteúdos sobre geometria, com um quadrado de cartolina na mão, o professor Willian Daniel Hahh Schneider, 24 anos, pergunta aos alunos do terceiro ano da Escola Municipal Catulo da Paixão Cearense, em Caxias do Sul: "O que são vértices?" Os pequenos, apressadamente, levantam o dedo para responder: "São as pontas!", "Ligam as arestas!" Na parede da sala de aula, entre outros trabalhos coloridos, estão expostas figuras montadas pelos alunos unindo diferentes formas geométricas. É nesse clima que ocorrem as aulas de Willian. O aprendizado flui por meio do lúdico, do incentivo à curiosidade. E os alunos saem ganhando, pois têm liberdade para imaginar e interagir.

Willian é graduado em Licenciatura e em Bacharelado em Ciências Biológicas, e, atualmente, cursa o Mestrado em Biotecnologia na UCS. A docência aliada à pesquisa é um dos seus principais trunfos como educador. Tanto que, no final de 2012, conquistou destaque nacional: ganhou o primeiro lugar no Prêmio Professores do Brasil, do Ministério da Educação, com o projeto pedagógico Pesquisadores Malucos - Trabalhando com o Método Científico. "Nesse projeto, desenvolvido com o quinto ano da escola, os alunos criaram perguntas e eles mesmos pesquisaram para descobrir respostas. As crianças tiveram a oportunidade de vivenciar as etapas do método científico, o que proporciona o desenvolvimento de diversas habilidades, como a autonomia para buscar o conhecimento", explica o professor que já planeja novos projetos. Sobre a carreira, Willian ressalta que é necessário muita dedicação e amor pela profissão. "Todo o dia é preciso trazer algo novo e diferente para a sala de aula." Mesmo defendendo que o professor deveria ser melhor valorizado, diz ser um profissional realizado no que faz. "Acho que estou no caminho certo", resume Willian, que desde a infância sonhava em ser professor.

Saiba mais

Após concluir a graduação, o professor formado pode dar sequência à sua formação com uma diversidade de cursos de especialização e, também, mestrados e doutorados.
Estudantes de cursos de Licenciatura que solicitarem o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) poderão solicitar desconto no pagamento do financiamento se atuarem como professores em escolas públicas. Informações no Site do Simec.

A pesquisa como preparação para a vida

A pesquisa deve estar intimamente ligada à atividade docente, pois aumenta a autonomia do professor e faz com que a prática educativa seja inovadora. Bruno Misturini, 21 anos, está construindo sua carreira com essa perspectiva. Como todo pesquisador, ele é curioso. Na graduação em Licenciatura em Letras, ele já atuava em pesquisas no Projeto Toponímia - área da Linguística que investiga a origem dos nomes dos lugares. Em 2012 ingressou no Mestrado em Letras, Cultura e Regionalidade da UCS, com proposta de estudar a origem dos nomes dos bairros do Município de Bento Gonçalves, sua cidade natal.

A curiosidade de Bruno fez com que descobrisse, por exemplo, o significado do nome do Bairro Pomarosa. Até chegar à última versão da origem do nome, várias entrevistas foram realizadas. A primeira versão dava conta de que o nome significava "pomar de rosas". Depois veio a sugestão "pomo cor de rosa", sendo pomo sinônimo de maçã. No bairro - popularmente chamado de Vinagreira -, havia uma empresa produtora de vinagre de maçã. Parecia convincente. No entanto, Bruno descobriu que Pomarosa nada mais era do que a junção das iniciais dos sobrenomes dos proprietários da tal empresa produtora de vinagre: Poletto, Marcon, Ross e Sandrin. Um conjunto de investigações como essa será a base da dissertação de mestrado de Bruno. "A pesquisa é muito importante para quem quer seguir a carreira de professor", avalia o mestrando, que é bolsista da Capes e que sonha em ser docente universitário. "Ser professor é mais do que passar conhecimentos, é preparar para a vida", resume.

Reflexões por meio da arte

Autores como o alemão Walter Benjamim apontam que a arte e sua crítica são meios de reflexão não apenas em relação à estética, mas, pela importância em relação ao que refletem sobre a sociedade. Dessa opinião compartilha o acadêmico do final do curso de Licenciatura em Artes Visuais Filipe Rafael Vebber, 27 anos. Ele pensa a arte de uma forma ampla, impregnada por conceitos históricos, políticos e culturais. "É preciso que sejamos críticos. O que é a arte? O que será que o autor quis provocar com a obra? Só o que é belo é bom?", questiona o futuro educador que, atualmente, trabalha como diretor de arte gráfica e produtos de moda.

Filipe acredita que o graduado em Licenciatura não deve limitar-se ao trabalho em sala de aula. Ele afirma que existem outros campos, como a curadoria artística. O estudante está projetando, por exemplo, a criação de um coletivo com participação de profissionais de diversas áreas, como jornalistas, designers e outras pessoas que tenham conteúdo para compartilhar. O projeto de trabalho de conclusão do curso em Licenciatura em Artes Visuais está sendo construído nesse sentido: o acadêmico quer pesquisar alternativas metodológicas educativas para a interação com a arte não somente em sala de aula. Os primeiros testes começarão a ser feitos nos estágios curriculares deste semestre, com alunos de Ensino Fundamental e Médio. "O educador na área de artes deve falar de estética com um olhar filosófico, incitando o pensamento das pessoas", ressalta o acadêmico, que pretende continuar sua formação em um curso de mestrado.

"A escola é um lugar incrível"

"Quando eu cursava o Ensino Médio, um professor de Física dizia: 'Não me imagino longe da escola'. Achei aquilo tão interessante, que comecei a pensar em ser professora", relata a acadêmica do curso de Licenciatura em Matemática, Daniela Bevilaqua, 19 anos. Além disso, ela queria seguir em uma profissão que permitisse estudar de forma contínua, e a docência configura-se como um eterno processo de aquisição de conhecimentos para o aperfeiçoamento da atuação. No início deste ano letivo, iniciou a carreira docente como professora das disciplinas de Matemática e Seminário Integrado para o 1º e 2º anos do Ensino Médio da Escola Estadual Henrique Emílio Meyer, em Caxias do Sul. Ela revela que a escolha pela área de Exatas ocorreu por entender que a Matemática tem proximidade com diversas áreas, permitindo, assim, que se percorra um caminho interdisciplinar.

Daniela está dando os primeiros passos como professora, mas já tem uma opinião consistente sobre a profissão. "Ser professor não é apenas uma profissão, mas um compromisso de educar e construir novas culturas. Há muito o professor deixou de ser o "transmissor" do conhecimento para ser um educador. Acima de tudo, ele é o instrumento primordial na construção de uma nova sociedade, mais humana e igualitária, com suas bases em uma educação sólida e de qualidade. Para ser professor é preciso querer ensinar, mas também estar disposto a aprender", destaca. Para quem está pensando em cursar uma Licenciatura, Daniela afirma que não é uma profissão fácil e que a classe ainda sofre com a baixa remuneração e o acúmulo de trabalho. No entanto, é muito recompensadora. "A experiência de estar em sala de aula é única em cada turma. Cada aula é diferente, mesmo que o planejamento seja o mesmo, pois os alunos reagem de formas diferentes. E isso é muito interessante, pois nunca caímos na rotina e o retorno que cada aluno pode trazer é especial. Além disso, a escola é um local incrível, pois ali circulam conhecimentos de todos os tipos."

Os cursos de Licenciatura na UCS

O Ensino Superior chegou a Caxias do Sul em 1949 por iniciativa do poder municipal, com a criação da Escola Superior de Belas Artes. Esse fato é bastante simbólico para a região, pois o primeiro curso foi, justamente, voltado para a formação de educadores. Posteriormente, em 1967, a Escola Superior de Belas Artes integrou-se a outras entidades para a fundação da Universidade de Caxias do Sul.
Isso significa que a UCS já nasceu com o compromisso de desenvolver a área das licenciaturas. Em sua história, a Instituição já disponibilizou à sociedade 20 mil professores.

Atualmente, são 14 cursos ofertados:
Artes Visuais | Ciências Biológicas
Educação Física | Filosofia
Geografia | História | Letras
Língua Espanhola | Língua Inglesa
Matemática | Música
Pedagogia | Química | Sociologia

(Texto: Juliana Rossa)



Revista UCS - Publicação da Universidade de Caxias do Sul, de caráter jornalístico para divulgação das ações e finalidades institucionais, aprofundando os temas que mobilizam a comunidade acadêmica e evidenciam o papel de uma Instituição de Ensino Superior.

O texto acima está publicado na quarta edição da Revista UCS que já está sendo distribuída nos campi e núcleos.

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